quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

[Se...] 5º Capítulo


5º Capítulo – Confiança?
“Obrigado, por todos os momentos que passamos juntos”
- Mama, o que aconteceu? – perguntou Helena rapidamente ao encontrar a mãe no corredor do hospital. Anita aparentava estar frágil, mas já se recompusera do susto. Ela olhava para Lena tentando contar o que havia ocorrido, porém o seu coração ainda estava um pouco temeroso.
            -Seu irmão idiota, e aquela moto mais idiota ainda.
            - Ãh? – perguntou não entendendo.
            - Seu irmão saiu com aquela moto. O sinal ainda estava verde, mas o carro da outra faixa cruzou e bateu com tudo nele. Mas, gracias a Diós ele está bem.
            - Quer ir para a casa descansar um pouco?  - perguntou preocupada com a aparência da mãe.- Eu fico com ele.
            - Não precisa querida, mais tarde eu vou. – disse tentando tranquilizá-la.
            - Ok, mas você vai e eu durmo aqui com ele, ok? – perguntou fazendo aquela cara de quem não aceita um não como resposta.
            - Certo, certo. Aceito sua ‘proposta’. – concordou abrindo a porta para que a filha entrasse.
            Ao entrar no quarto, Helena notou a cor pálida do irmão, assim como o gesso na perna e no braço esquerdo, além dos pontos na testa e algumas queimaduras.
Rafael tinha 22 anos e um brilhante futuro pela frente como arquiteto. Morria de ciúmes da irmã, portanto nunca a apresentava para os seus amigos, inventando sempre alguma coisa pra ela fazer fora de casa quando eles iam visitá-lo.
- Ei, oi linda. – sussurrou com voz fraca.
- Por que não me chamou quando isso aconteceu? – perguntou sentando-se no sofá ao lado da cama, pegando assim a mão ‘boa’ do irmão. Ela olhava-o entristecida e preocupada com o seu estado, o fazendo se sentir um lixo por ter feito ela se preocupar.
- Não queria te atrapalhar, sei que você estava com os seus amigos.
- Bobo, você sabe que você é mais importante. – sussurrou com voz de choro.
- Sei, mas não queria te preocupar. – disse limpando uma lágrima do rosto da irmã. – Não chore por isso, eu estou aqui, bem ao seu lado. Esqueceu? Eu sou o mais importante, não importa o que aconteça eu sempre estarei aqui. – comentou.
- Convencido. – disse rindo um pouco. – E então, vai me contar o que aconteceu? – perguntou tentando conter a tristeza em seu coração para que assim ela pudesse ser a sempre bem humorada e forte irmã que Rafael esperava que ela fosse.
Assim, com conversas e risos, Helena e Rafael passaram a noite fortalecendo ainda mais seus laços de irmandade. Mas, mesmo relacionando-se bem com o seu irmão Helena sabia o que deveria a todo custo ocultar do conhecimento do irmão, e esse algo certamente era Will.

Willian chegou a casa mais feliz que criança quando ganha doce. Ele havia desistido de achar uma razão para a saída rápida de Helena, se contentando apenas com aquele sentimento que perfumava seu coração.
            Assim que entrou encontrou Kingone com uma expressão de contentamento. Pelo jeito a tarde do amigo também havia sido ótima. Eles trocaram rápidos olhares subentendendo-se que necessitavam por pra fora toda aquela felicidade que habitava seus corações.
            - Quer fazer isso agora ou depois? – perguntou para Kingone, voltando da cozinha com um copo de água.
            - Agora é melhor. Nossos pensamentos estão mais calmos e frescos. – respondeu Kin, apontando para o sofá.
            Acomodou-se lentamente no sofá, pensando na melhor forma de contar o que acontecera para o amigo. Detalhou claramente para Kin toda a sua tarde e a explosão de sentimentos que sentiu quando beijou Helena, assim como toda a sua preocupação e zelo para com a menina.
            Kingone permaneceu calado enquanto o amigo falava. Sabia que Willian era teimoso demais e não admitiria que estava apaixonado. Pelo jeito ele teria que usar algumas táticas de sua mãe, que era psicóloga.
            - E então Kingone? Qual é o seu veredito?
            - Você a deseja muito. Entretanto é só desejo, nada de paixão, nada de amor.
            - O QUÊ? – questionou assustado. – Você disse que eu estava apaixonado por ela e agora diz que é só desejo? Como vou olhá-la novamente? – perguntou entristecido.
            O amigo silenciou-se por alguns segundos, pensando se era o certo o que ele estava fazendo. Estava o enganando, mesmo que fosse para o seu próprio bem e o de Lena. Será que isso era certo?
            - Will, pense bem no que eu vou dizer pra você agora. A Helena é linda, fofa, inocente, amorosa. Se você realmente a ama sei que sentiria muito mais do que zelo e preocupação. Quando se ama alguém você sempre está feliz independente da sua situação. Você vê felicidade em tudo e em todos, e só de pensar em quem se ama seu coração bate, mais bate tanto que parece que vai fugir do seu peito.
            - Kin, não comece com os seus dilemas esquisitos. Você agora está me dizendo que o que eu sinto pela Helena não é amor, mas sim desejo. Como você quer que eu encare isso?
            - Como o homem que eu sei que você é.
            Will olhou espantado para o amigo. Kingone nunca disse nada como aquilo para ele, mas como queria acabar com aquele assunto perguntou ao amigo o motivo da sua felicidade.
            - E você? Qual é o motivo deste sorriso amarelo? – perguntou calmamente. – Luna?
            - Luna, certo. – sorriu contente.
            - Que bom que você está feliz Kingone.
            - Feliz não, explodindo de felicidade.
            - Mas o que aconteceu com vocês dois?
            Kingone levantou-se, abriu a sacada do apartamento deixando o ar frio do outono tomar conta do ambiente. Olhou a lua brilhante lá fora, sorrindo apenas ao pensar no que sentia por Luna.
            - Na verdade nada. Apenas me dei conta que preciso dela mais do que tudo. Preciso dela porque a amo, porque sinto um grande reboliço quando estou perto dela e principalmente porque sei que ela sente o mesmo por mim. Quando ela me olha com aquele olhar de paixão eu me derreto todo.
            Will riu da alegria do amigo. Era incrível ver Kingone feliz daquele jeito.
            - Que maravilhoso Kin. Acho que é a primeira vez que te vejo assim.
            - É, eu também. – disse rindo – Que bom não é? Estar apaixonado assim por alguém é incrível.
            - Uma sensação única, certo?
            - Sim. Ainda bem que vivemos em pleno século XXI, pense se vivêssemos antigamente.
            - Em qual sentido Kin? – perguntou Will pensando seriamente no que o amigo queria dizer.
            - Pense se vivêssemos naquela época em que o casamento era arranjado e não podíamos nos casar com quem amávamos de verdade.
            Por algum motivo não revelado Willian tornou-se repentinamente vermelho de raiva. Levantou rapidamente do sofá e foi até a janela e ficou observando a rua por alguns segundos. Realmente Kingone poderia ter sido mais feliz não tocando em um assunto como aquele, porém nada poderia fazer sobre isso já que o amigo nada sabia da sua infelicidade.
            - Algum problema Will? – perguntou Kin estranhando a atitude do amigo.
            - Nada não. – disse omitindo. – Que tal irmos à casa do Yuri? – perguntou tentando desviar o foco da conversa.
            - Por mim tudo bem. Ele ligou aqui antes de você chegar.
            - Hum, ele deve ter ligado para o Renato, o Kauê, a Lisandra e o Rafael também. Talvez ele queira uma pequena festinha. – concluiu.
            - Na verdade não.
            - Não? – perguntou intrigando-se com a chamada de Yuri.
            - Não. O Rafael se acidentou com a moto hoje de tarde. Está no hospital. O Yuri quer visitá-lo amanhã e perguntou se queríamos ir junto.
            - Se acidentou? Como?- perguntou já um pouco aflito. Will sabia que há tempos a mãe de Rafael queria dar aquela moto por ter medo do filho se acidentar.
            - O Yuri disse que segundo a mãe do Rafa a culpa foi do carro. Ele queria ir lá hoje, mas a Tia Anita disse que seria melhor esperar um pouco. Na verdade o Yuri falou que estava mais preocupado com a irmã do Rafa.
            - Yuri e o Rafa são amigos desde o maternal, não é?
            - Uhum. Por isso que o Yuri se preocupa com a irmã dele. Segundo ele os dois não se largam desde criança e sabe que ela sofre por ele, assim como também sabe que ela é mais forte do que aparenta ser.
            - A irmã do Rafa... Nós nunca a conhecemos. – comentou Willian pensando em como poderia ser a irmã do amigo.
            - É mesmo. A Tia Anita disse uma vez que o Rafa tem muito ciúme dela, por isso quando vamos lá ela nunca está. – comentou rindo.
            - Como será que ela deve ser? – se perguntou Will. – Bom, melhor eu ir tomar um banho, já que pelo jeito não vai rolar irmos no Yuri. Temos que descansar.
            - Mas hoje nem é sábado. – comentou Kin rindo da expressão que Will fez.
            - Sem gracinhas Sr. Kingone. – disse indo até o seu quarto. – Vamos ver o Rafa que horas amanhã? – gritou do quarto enquanto pegava um pijama.
            - Lá pelas 10 da manhã. Tem exame amanhã e nós não ficamos. – comentou relembrando o amigo.
            - Ok. – concordou entrando no banheiro.
            Nem parecia que já estavam no meio do segundo bimestre. Tanta coisa havia acontecido em tão pouco tempo que nem parecia que havia conhecido Helena há quase um mês. Embora aquela água quente que lavava seu corpo não estivesse surtindo o efeito desejado de acalma-lo, pela primeira vez em muito tempo Will tratou de esquecer o telefonema de sua mãe enquanto tomava banho. Não era necessário se preocupar com aquilo. Não era necessário enquanto ele tivesse Helena, mesmo que ainda tentasse entender o que ela significava para ele.
            “Eles estavam com os olhos fechados e apenas deixaram o momento acontecer não interrompendo aquele beijo que ambos queriam.”
           

O despertador tocou às nove e meia, acordando uma Helena um tanto quanto cansada. Aproveitando que seu irmão ainda estava dormindo decidiu dar uma volta no hospital, além de comprar alguma coisa para que pudesse comer depois.
            Já tinha avisado Luna que faltaria às aulas, pois queria passar o dia inteiro com Rafael. Junto dele Lena conseguia esquecer Will, e isso para ela era algo considerado bom, uma vez que ele estava fazendo uma grande bagunça em seu coração.
            Assim que entrou novamente no quarto do irmão foi recebido com um alegre ‘Bom dia’ e um pouco de reclamação.
            - Lena, querida, quero meu café! – falou seriamente para a irmã, fazendo um pouco de beiço. Por mais que fosse seu irmão mais velho Rafael conseguia fazer birra como se fosse uma criança de 10 anos.
            - Está com fome, é? – perguntou – Vou buscar lá e já volto, ok?
            - Por que não manda a enfermeira trazer? Assim você pode ficar aqui comigo, sem que eu me preocupe com você.
            - Não acha que é mais fácil acontecer o contrário? – perguntou já indo em direção à porta.
            - Em que sentido? – perguntou o irmão.
            - Eu me preocupar com você assim que sair. – sussurrou saindo do quarto. Voltaria com um belo café da manhã para o irmão.

            - Bom dia, o que desejam? – perguntou a secretária do Hospital para aquele grupo que estava na sua frente.
            - Viemos visitar o Rafael Whesthy. – disse Kingone.
            - Yuri, Kingone, Willian, Renato, Lisandra e Kauê, o que fazem aqui?
            Assim que seus nomes foram chamados olharam para trás e se depararam com Anita. A senhora, mãe de seu amigo, parecia cansada, mas ao mesmo tempo aliviada. Trazia consigo uma pequena bolsa, aparentando ser uma muda de roupa.
            - Viemos visitar o cabeça dura do seu filho – respondeu Yuri brincalhão.
            - Vamos, levarei vocês lá. – disse pegando os cartões de visitas que a secretária disponibilizara.
            Seguiram Anita pelos corredores conversando baixinho para não quebrar as regras do hospital.
            - Ele está melhor Tia? – perguntou Will.
            - Sim, Willian, ele está melhor, graças a Deus. Foi apenas um susto. – completou enquanto parava em frente a uma porta que estava para ser aberta.

            Assim que Rafael terminou de comer pediu encarecidamente para que a irmã fizesse o mesmo. Ele não achava certo ela apenas tomar o néctar que havia comprado quando estava explorando o hospital, por isso pediu para que ela fosse até a padaria em frente ao hospital e tomasse um decente café com leite para que assim pudesse aguentar o resto do dia.
            Por fim Helena aceitou o pedido do irmão. Girou a maçaneta da porta e levou um grande susto.
            - Ah! Que susto. – sussurrou Helena ao ver sua mãe com visitas.
            - Que é isso menina? Até parece que nunca me viu. – brincou Anita.
            - Mama, não estava esperando você agora. Pensei que só vinha de tarde. – explicou-se ainda sem ver quem eram as visitas.
            - Sei, sei. Como se eu fosse uma mãe desnaturada. – comentou. – Então, como está o seu amoreco[1]?
            - Melhor – falou abrindo mais porta. – Esperem um pouco – pediu, entrando no quarto.
            - Ei, deixe-a ir tomar café. – gritou Rafael assim que viu Helena entrar novamente no quarto.
            - Se comporte, você tem visita. – disse ao irmão enquanto arrumava rapidamente a pequena bagunça que tinham feito. Assim que terminou voltou a abrir a porta e olhou atentamente para as visitas que ali estavam gelando na mesma hora.
            Na sua frente estava nada mais e nada menos que Willian e Kingone, além dos amigos de seu irmão, Yuri, Renato, Lisandra e Kauê. Willian e Kingone estavam surpresos por Helena estar ali, entretanto o primeiro possuía uma pitada de profunda decepção em sua face.
            - Entrem – pediu Anita assim que a filha abriu a porta – Vai ficar Lena?
            - Não, vou tomar café na Requinte[2]. – disse a sua mãe. – Daqui a pouco eu volto.
            - Ok. – disse fechando a porta após o último entrar.
            Helena suspirou vagarosamente e andou lentamente até o fim do corredor sendo parada por um par de braços que a impediram de continuar. Aquele toque, aquele cheiro hipnotizador, ela sabia muito bem de quem era.
            - Helena, então este era o seu assunto de família? Você traiu o meu amigo comigo? – perguntou confuso. Assim que entrara no quarto Will dera um rápido oi para Rafael, logo saindo, dizendo que tinha que atender um telefonema. Havia ficado revoltado com a presença de Helena ali.
            - Ãh?
            - Você... Nós...
            - Tá maluco Willian? – perguntou Helena, estranhando por demais a atitude do menino.
            - Não, mas é que... – balbuciou
            - Me deixe ir comer que eu estou com fome. – pediu tentando se soltar – Volte para o quarto Will e entenda meu papel aqui antes de falar algo que poderá se arrepender depois.
            Willian a soltou e percebeu que ela estava braba. Pelo jeito agir por impulso não era uma coisa certa a se fazer.
            - Você quer que eu confie em você? – perguntou Helena.
            - Sim, eu quero. – disse olhando bem naqueles olhos azuis.
            - Então confie em mim – disse por fim continuando o seu trajeto.
            Willian ficou parado ali pensando no tamanho do ciúme que estava sentindo. Embora aquilo machucasse muito seu coração, ele sabia que Helena estava certa. Tinha que entender o papel dela ali, assim como o papel dela em sua vida.
            “Era tudo culpa do seu coração afinal.”

            - No fim, foi assim – concluiu Rafael.
            - Eita cabeçudo – comentou Will – Você contou isso como se fosse à coisa mais normal do mundo. Não se sente nem um pouco arrependido?
            - Mas já disse que a culpa não foi minha. –defendeu-se Rafael.
            Depois de voltar ao quarto e ouvir todo o relato de Rafael, Willian ainda não havia tido coragem de perguntar o que Helena era dele.
            - Pelo menos você está bem. – disse Yuri. – Tenho certeza que a Tia Anita e a Helena deram graças por poderem se livrar da moto.
            - Helena? – perguntaram Will e Kingone.
            - É Helena. A menina que estava aqui antes. – disse Rafael.
            - A menina que por um acaso é a sua irmã. – completou Yuri.
            - A Lena é sua irmã? – perguntou Kingone, já percebendo a cara de alivio que Willian fazia.
            - É sim, vocês a conhecem?
            - Uhum. Ela estava comigo ontem quando sua mãe ligou. – disse Willian.
            Rafael olhou desconfiado para Willian. Então era com ele que sua irmã estivera. Será que era ele também que ela havia chamado de noite? Helena, às vezes, falava enquanto dormia. Sussurrava pequenas palavras e frases, e naquela noite havia chamado por um tal de Will. Será que era aquele Will?
            - Então você é o tal do Willian que ela disse pra mim. – comentou sarcástico, já demonstrando suas segundas intenções.
            - O que ela disse? – questionou Will um pouco receoso.
            - Eu não disse nada. – falou Helena entrando no quarto, chamando a atenção de todos que ali estavam. –Oi pessoal. – cumprimentou e completou - Aliás, o que eu poderia dizer sobre você? – perguntou para o Will, que já compreendera o jogo de persuasão que Rafael queria fazer com ele. – A mama já foi?
            - Já sim. Disse que volta mais tarde. – explicou. Foi quando olhou para Yuri e viu o que o amigo queria fazer. Yuri estava logo atrás de Helena, pronto para abraça-la. – Yuri nem pense nisso. – proferiu, mas era tarde demais.
            Num momento de descuido Helena deixou-se envolver por Yuri, que a abraçava como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo, como se os dois fossem um simples casal visitando um amigo. Dava para perceber que o ato do rapaz, deixou Rafael se corroendo de ciúmes, mesmo que já estivesse se acostumado com o relacionamento do amigo com a irmã. Contudo não era apenas Rafael que estava com ciúmes, Willian também estava.
            - Helena, você cresceu.- comentou Yuri, dando um singelo beijo na bochecha da menina, fazendo-a corar com o ato.
            Willian olhava aquilo tentando segurar o bicho maligno que corroia suas entranhas, o vulgo bicho do ciúme. Não podia deixar tudo o que estava sentindo vir à tona ali. Kingone como sempre percebeu a nova inquietação do amigo e preocupou-se. Ele sabia que Will não admitiria mostrar seus sentimentos ali.
            - Largue minha irmã. – disse dando ênfase ao pronome possessivo.
            - O que é isso Rafa? Até parece que nunca viu a gente assim. – comentou Yuri, tocando levemente a bochecha de Lena.
            “Como assim?”, pensava Will, “Como assim: ‘Parece que nunca viu a gente assim?’. Algo o preocupava muito. Qual era a verdadeira relação de Helena com Yuri para ele possuir tal tipo de liberdade com sua menina?
            - Pare Yuri – pediu Rafael – Você sabe que eu morro de ciúmes dela, ainda mais com você que cresceu comigo.
            - Pare você de ser fresco. – rebateu Helena – Além do mais esta agradável ficar assim. – comentou arrancando risos de todos, exceto Will que permaneceu impassível, atraindo assim a atenção de Lena.
            Ela olhou para ele e percebeu, por sua expressão, que algo não estava certo. Por um momento compreendeu que necessitava saber mais sobre ele, pois seu coração batia cada vez mais forte assim que pensava nele, desde o ocorrido no apartamento. Queria saber tudo sobre Will, todas as suas dificuldades, seus males, suas alegrias e tristezas, e principalmente queria desvendar o seu coração. Por isso não gostou nem um pouco de vê-lo sem nenhuma expressão perante tal brincadeira.
            - Helena. – chamou Rafael – Que tal você arranjar uns miojos? Assim podemos almoçar juntos.
            - Oppa[3], miojo? Por que miojo? Como se eles quisessem comer isso. – comentou brincando mais uma vez.
            - Vai lá arranjar e não reclame.
            - Ok. – disse emburrada, desmanchando-se do abraço de Yuri – Algum sabor específico? – perguntou olhando para os presentes.
            Após anotar os sabores, Helena saiu rapidamente do hospital e foi até a farmácia. Já era meio-dia e meia, e o trânsito estava bem movimentado. Não tanto quanto seu coração, que não conseguia ficar calmo sabendo que assim que voltasse ao hospital estaria com Will.
            “Poder amar você não foi uma escolha que fiz.”

            Conversa vai, conversa vem, quando perceberam já estava na hora de ir embora. Despediram-se de Rafael e Helena e foram andando até seus apartamentos. Quando estavam próximos, Will percebeu que havia esquecido seu moletom no hospital, em cima do sofá. Entretanto no bolso do moletom estava seu celular, e ele precisaria dele mais tarde para ligar para os motoristas que os levariam até o local do acampamento.
            - O que foi Will? – perguntou Renato, percebendo a cara do amigo de quem esquecera algo.
            - Sabe por que sinto frio? – perguntou.
            - Esqueceu o moletom lá, não foi? – perguntou Kingone, já entendendo a indireta do rapaz.
            - Sim.
            - Ligue pra Lena. Ela separa e te entrega depois. – comentou Yuri.
            - Esse é o problema. Meu celular está no bolso do moletom, e precisamos dele para ligar para os motoristas.
            - AISH! CABEÇUDO! – falou Kingone indignado. – Eu disse pra você anotar esses números no papel para o caso de algum imprevisto acontecer. Vá logo lá e pegue esse celular.
            - Ok, eu vou. Mas não me esperem, talvez eu demore. – comentou se retirando.
            - Onde será que ele vai depois? – perguntou Lisandra para os meninos, que não souberam responder. Kingone era o único que sabia essa resposta, mas ele não revelaria para nenhum ali.
            Sabia que Will ficaria por lá e tentaria resolver as coisas com Helena. Sabia que ele no fim das contas tentaria ouvir o seu coração.
            “Aquele amor que sentia era maior que todas as desavenças que poderiam existir.”


[1] Forma fofa de se referir ao filho.
[2] Nome da panificadora que fica na frente do Hospital Santa Casa em Ponta Grossa.
[3]  Irmão mais velho na Coreia do Sul.

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