quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

[Se...] 3º Capítulo


3º Capítulo – Esqueça mais uma vez
“Isso não é o certo. Por favor, não maltrate nossos corações”.

            O céu estava nublado e as lágrimas das nuvens caíam sem demora e piedade sobre aquela sombria cidade em pleno outono. Estava frio, e todo aquele tempo poderia ser um sinônimo de resfriado. Entretanto os universitários não estavam se preocupando com isso, queriam a todo custo que o acampamento saísse.
            Era realmente difícil unir todo o Campus da Universidade para uma atividade conjunta, e quando surgiu à ideia de um acampamento, por parte dos alunos de Engenharia Química, todos os outros cursos agarraram aquela ideia como se fosse um ponto brilhante de esperança que traria divertimento e atividades sociais, como se fosse à esperança para o fim daquelas ridículas e toscas rixas. 
            Entretanto muito ainda devia ser visto e arrumado, o que estava deixando Kingone louco. Tantas inscrições a recolher, divisões de grupos, atividades, que ele e os outros representantes não estavam dando conta do recado.
            Ninguém mandou ser o mais responsável, eleito o organizador e presidente daquela união estudantil. Agora era ele o único que pagava pelo excesso de confiança que passava aos outros.
            Aquela quarta-feira não era nem um pouquinho diferente do que os outros dias haviam se tornado por conta do acampamento. Mal conseguia dormir, comer e pensar em outras coisas que não fossem aquele maldito encontro de cursos. Estava tão distraído que não percebeu que Helena o chamava.
            - Ei, Kingone! – chamou-o pela quinta vez e não obtendo resposta cutucou forte.
            - Ah? Oi Helena. – respondeu acordando do transe que se encontrava.
            - Kingone você não está bem. Está escrito isso em seu rosto. Você precisa de ajuda, e é isso que nós estamos oferecendo a você. - disse diretamente e sem demora.
            - Ãh? Como assim Helena? Não estou entendendo. – perguntou para a menina que há poucos dias conhecera.
            - Segundo nossa representante de turma você está com problemas em organizar as inscrições, os grupos, e as atividades que cada curso desempenhará. Por isso, nos deixe ajudar. Dói ver que você está deprimido e sofrendo.
            - Você não deveria se preocupar com isso. – a respondeu sorrindo – São meus problemas, Helena, não seus e de suas amigas. Por serem meus eu mesmo tenho que dar um jeito de arrumá-los.
            - Podem não ser os nossos problemas, mas queremos realmente te ajudar. Apenas queremos que esse acampamento seja o primeiro de muitos, e que eles nunca esqueçam o quanto pessoas como você trabalharam para que ele desse certo. – respondeu Luna que surgia atrás de Helena.
            - Não seja tolo e aceite. – disse Pietro – Não é sempre que meninas lindas vem oferecer ajuda a caras como você.
            - Pietro, por favor, menos. – Nina sussurrou repreendendo-o. – Vamos Kingone, queremos te ajudar. Aceite isso como uma bonificação por conversar conosco.
            Kingone olhou ao seu redor e constatou que todos aquelas pessoas só queriam que o acampamento desse certo, nada mais que isso. Estavam prontos para ajudar mais do qualquer um de seus amigos.
            Luna mantinha os olhos fixos em Kingone, tentando entender seus pensamentos. Desde que se encontraram pela primeira vez ela arriscava compreender o que aqueles olhos brilhantes tentavam dizer pra ela. Ela havia se apegado a eles, como alguém se apega a um bicho de pelúcia, e vê-los aparentemente tristes e cabisbaixos a deixaram completamente sem chão.
            Helena observava o destino dos olhos da amiga com um grande sorriso no rosto. Todas sabiam que Luna precisava muito ser amada, respeitada e admirada, e Kingone parecia a melhor pessoa para ocupar o coração da pequena.
            - Acho que não poderei recusar essa proposta. – respondeu vencido. – Querem começar já?
            - Óbvio. Quanto antes melhor. Vamos fazer esse acampamento ser o melhor de todos! – respondeu Luna com um enorme sorriso no rosto.
            Com o consentimento de Kin, seguiram todos até a sala vaga mais próxima e postaram-se a organizar as fichas, para assim poder dividir os grupos. Pelos olhares cativantes trocados por Kingone e Luna, uma coisa os demais presentes tinham certeza: aquela semana seria inesquecível.

            Por mais que ele tentasse encontra-la parecia impossível. Nenhum lugar aparentava ter seu brilho, sua presença e principalmente sua imagem e alma. Desde aquele dia nada mais se encaixava, nem mesmo seus pares de meia.
            Will achava aquilo até um pouco ridículo. Nunca fora de se apaixonar e cometer loucuras inclusive em seus pensamentos.  Entretanto, será que aquilo era mesmo amor?  Certamente não.
            Os dias foram passando e ela foi ficando esquecida. Acabou virando apenas um nome, sem um rosto, um leve borrão em sua mente. Caiu no esquecimento, não total, mas gradativo, como uma pequena paçoca virando aos poucos uma farofa.
            A mente humana é complicada, ainda mais quando resolve entrar em confronto com o coração. Era o que estava acontecendo com ele.  Na verdade ele sabia que não podia estar com ela, era errado e certamente só a machucaria, mas porque era tão impossível apaga-la por completo de seu coração?
            - O que tanto pensa Willian? – perguntou Kingone, entrando em casa com uma pilha horrenda de papéis – Talvez uma forma de me ajudar?
            Will achava incrível Kingone sempre aparecer quando ele estava em uma luta inconsciente com a sua mente e coração. Para ele a sensação era de que o amigo o conhecia tão bem que sabia todos os seus males apenas ao olha-lo.
            - Quer esquecer a sua batalha mental e vir me ajudar? – perguntou novamente Kingone – Faça alguma coisa de útil, assim você não pensa no que poderia estar pensando. – disse por fim.
            - Você só quer um ajudante isso sim. – disse birrento.
            - Não, tenho muitos agora, na verdade muitas. – concluiu entregando uns maços de papéis para o amigo, que espalhou sobre a mesa de cozinha.
            - Como assim?
            - Algumas pessoas viram que eu estava sofrendo, ficando nervoso, irritado e estressado essa semana, e perguntaram se eu não queria ajuda. O mais incrível é que nos nem convivemos juntos e só conversamos uma ou duas vezes.
            - Não vai me dizer quem é?
- Mas eu já dei dicas muito importantes e simples. Aliás, eles estão vindo pra cá agora. Ainda bem que a Mari veio limpar a casa hoje.
            - Como assim? Aqui? Vão fazer o que aqui? –perguntou.
            - Vamos achar a melhor forma de separar os alunos em grupos. E prepare-se, você vai fazer uma comida majestosa para nós.
            - Ok, Único Rei! – disse brincando com o nome do amigo. – Mas vou ao mercado então, não tem nada na nossa reserva de energia (vulgo geladeira).- afirmou pegando a carteira e sumindo pelo corredor.
            “Vamos pelo menos assim você a esquece e, além de esquecê-la, conhece gente nova”, pensou motivando-se enquanto se acostumava com o aconchego da noite que lentamente chegava.


            A campainha tocou anunciando a chegada de todas aquelas cabeças a mais que o ajudariam a encontrar a melhor solução para o seu problema. Will ainda não retornara do mercado, o que era um alívio, pois se estivesse ali entraria em colapso certamente. Estavam ali em frente ao apartamento: Helena, Luna, Nina, Pietro, Julia, Emma e Beatriz.
            - Podem entrar. Sintam-se à vontade. – disse levando-os até a mesa.
            - Para uma casa de universitário está bem arrumada – disse Luna brincalhona.
            - É né, hoje era dia da diarista. – confessou, fazendo todos caírem na gargalhada. – Sentem-se, quando mais rápido começarmos melhor.
            - Certo. Mas Kingone você mora sozinho? – perguntou Julia estranhando a disposição dos móveis na casa.
            - Não, mas não se preocupem com meu amigo ele vai fazer a nossa comida. – comentou. (Dá-lhe Will cozinheiro!!!)
            - Nos conhecemos ele? – pergunta Julia, por pura curiosidade.
            - Com certeza. – respondeu Kin olhando de relance para Helena.
            Por fim sentaram-se em volta da mesa de jantar, começando a discutir sobre como fariam aquela divisão, que parecia um tanto quanto complicada. Kingone achava melhor separar por sexo, mas o restante dizia que era melhor grupos mistos, até que Helena se manifestou-se com uma brilhante ideia.
            - Por que nós não dividimos por curso? – perguntou.
            - Como assim? – questionou Julia.
            - Bom, primeiro faríamos uma divisão por curso. Engenharia Química, Mecânica e assim por diante, assim poderíamos fazer uma campanha de arrecadação de alimentos.
            - Tá, mas o intuito não era mesclar os grupos?? – questionou Kingone.
            - Sim, e por isso na hora distribuiríamos um papel com um número para cada aluno. O número que estiver no papel equivale ao número do grupo.
            - Ah, sim, então dividiríamos lá, ao mesmo tempo em que faríamos com que cada curso se reunisse para juntar os alimentos. – pensou alto Kingone. – Mas e como faríamos para dormir?
            - E que tal se na hora do acampamento não dividíssemos por bloco?       - perguntou Luna.
            - Bloco? Até que não é uma má ideia. Assim faríamos com que houvesse uma interação entre os grupos que utilizam o mesmo bloco. Por exemplo: Engenharia química, Técnico em Agroindústria e Tecnologia em Alimentos. – concluiu Kingone – Muito bom.
            - Desculpe Kin, mas discordarei de você. – disse Pietro carrancudo.
            - Por quê? – questionaram todos.
            - E eu e a Nina? Como vamos ficar? – perguntou.
            Nina revirou os olhos. Não entendia como pode se apaixonar por um cara como Pietro, tão brincalhão, mas o amava tanto, tanto que nada mais importava para ela. Ele em sua vida já era essencial.
            - Simples baby. – respondeu-o. – Ficaremos separados, assim como todos os outros casais para que o acampamento não acabe virando um ‘amassamento’.
            Todos riram da cara de desaprovação de Nina para Pietro. Até que ouviram o som da porta se abrindo e uma voz, que chamava Kingone, pedindo ajuda.
            Não conseguiram ver quem era. A sala de jantar era separada da sala de estar e da cozinha por uma parede, entretanto Helena sabia muito bem de quem era aquela voz. Inesperadamente seu coração começou a bater mais rápido, sem ao menos saber o porquê. “O que estou fazendo aqui?”, se perguntou enquanto depositava lentamente a cabeça que doía intensamente sobre a mesa.

            Will abriu a porta e interrompeu pequenas gargalhadas que vinham da sala de jantar. Havia aproveitado a passagem no mercado e comprado tudo o que faltava em casa, por isso estava segurando milhares de sacolas e precisa da ajuda de Kingone.
            - Kingone, venha me ajudar. – pediu, deixando algumas sacolas na porta.
            Quanto mais se aproximava da cozinha começou a ouvir novamente as vozes. Não eram muitas e pelo jeito sua majestosa pizza certamente serviria a todos. Olhou de relance para Kingone percebendo a cara de safado que o mesmo estava fazendo, era hora dele pagar por seu atraso.
            - Foi no mercado do Alasca por um acaso?
            - Não, apenas encontrei o Anthony e ficamos batendo um papo. – respondeu enquanto guardava nos armários o que não usaria.
            - Ok, ok, senhor popular. Já que adora conversar venha dar um oi pra galera.
            - Certo – concordou seguindo Kingone que olhou para ele esperando uma reação de surpresa.
            Ali sentada na sala de jantar estavam nada mais nada menos que Luna, Pietro, Nina, Julia, Beatriz e Emma, além de mais alguém que aparentemente adormecia sobre a mesa.
            - Boa noite! – exclamou animado – Quanto tempo?
            - Will?! – disseram surpresos.
            O clima que se instalou era um pouco tenso, os olhares eram trocados entre Will e a pessoa adormecida.
            - É você que divide o apartamento com o Kingone? – perguntou Nina um pouco receosa.
            - Uhum Nina, sou eu sim. E aí o que querem para o jantar? – perguntou rapidamente.
            - O que você vai fazer pra nós? – perguntou Kingone.
            - Pizza!! – exclamou, deixando todos com água na boca
            - Hum, vai precisar de ajuda? – questionou Kin, já armando um plano secreto.
            - Só se vocês estiverem com muita fome. – disse por fim indo para a cozinha.
           
Todos a olhavam, ela sentia isso. Não estava se sentindo bem com aquela situação. O que aconteceria se aquilo fosse na realidade um Dorama? Qual seria a ação da atriz principal? Fugiria daquele lugar ou aguentaria aquele indivíduo?
            Nina chegou mais perto dela e tocou levemente seus cabelos, a fazendo levantar a cabeça e fita-la.
            - Helena, quer ajuda-lo? Você parece cansada, assim vamos embora mais rápido. – pediu para amiga.
            - Eu ajudo, mas é só porque não me sinto bem. – disse ainda deitada.
            - Kingone, tem remédio pra dor de cabeça aqui? – perguntou Luna, olhando fixamente para Helena.
            - Pode ser Neosa*[1]? O Will tem, eu já pego com ele.
            - Pode. – sussurrou Helena um pouco branca. Odiava quando tinha crises como aquela, se sentia fraca e inútil, além de não conseguir raciocinar direito, mas mesmo assim aquela crise não havia atrapalhado o andamento da reunião até aquele momento.
            - Tem certeza Helena? – perguntou Nina um pouco indecisa com o remédio.
            - Melhor ficar alterada do que dopada. – respondeu Luna no lugar de Helena.
            Era muito bom estar ao redor daquelas pessoas que tanto sabiam sobre ela e que sempre estiveram dispostas a protegê-la. Mesmo que ela enlouquecesse um pouco com o remédio, pelo menos toda aquela história ficaria muito engraçada.
            Helena possuía um problema em relação aos remédios de dor de cabeça. Havia um componente em sua formulação que, ao invés de deixa-la calma, a deixava agitada. Eram nesses momentos que a loucura se instalava naquele grupo de amigos.
            Após tomar o pequeno comprimido que Kingone gentilmente havia pegado para ela, Helena esperou cerca de 10 minutos e se levantou da mesa rumando vagarosamente até a cozinha.
            - Hey, o que você vai fazer? – perguntou Kin preocupado.
            - Vou acabar logo com isso – disse dando um leve sorriso de vitória.

            A cozinha estava solitária demais para ele. Por que ele deveria fazer comida para aquele bando invasor? Pelo menos um deles poderia se dispor a ajuda-lo a preparar o rango. E quem era aquela pessoa mal educada que nem teve a decência de cumprimenta-lo?
            - O que tanto resmunga? – perguntou fazendo-o se assustar.
Virou-se para ver quem era e olhou atentamente para aquela que graciosamente ria dele. Era um riso bonito e sincero, puro e inocente que o fez rubro por alguns segundos.
- Desculpe. Não me aguentei. – disse chegando mais perto. – Precisa de ajuda?
            Will sentiu-se nervoso, não queria tê-la por perto muito menos o ajudando. “Helena por que está aqui? Por favor, não confunda meu coração”, pensou observando-a. O que estava acontecendo ali? Incomodado, desviou o olhar e tratou de se concentrar na receita da massa da pizza. Mas mesmo assim não deixara de notar a cor pálida da menina.
            - O remédio era pra você? – perguntou sem tirar os olhos da massa.
            - Uhum, daqui a pouco já faz efeito. – disse, aliviando Will que ficara um pouco preocupado, completando em seguida: - Se não quiser minha ajuda... – começou a falar, sendo interrompida.
            - Não me leve a mal Helena... – falou olhando-a.
            - Seja sincero. – disse olhando fixamente em seus olhos.
            - Sincero?- perguntou estranhando – Por que eu tenho que responder sinceramente sobre isso? – sussurrou, pensando alto, esquecendo-se da presença da menina.
            - Seja sincero em tudo que fizer Will, assim as pessoas poderão ver o quão verdadeiro você é e quanta lealdade você possui. Não adianta você pensar de uma forma e agir de outra. Para mim esse é o pior tipo de pessoa que existe. – explicou.
            Como ele poderia ser sincero na frente dela? Se ele realmente revelasse o que o coração e a mente dele estavam pensando certamente Helena nunca mais falaria com ele. Sinceridade? Aquilo não poderia acontecer entre os dois.
- Nunca pensei por esse lado. – revelou- Então serei sincero com você. – disse por fim – Na verdade não tem muito no que ajudar com a pizza, mas se você quiser fazer a sobremesa até que não seria uma má ideia.
            - Ok, então eu faço a sobremesa. – disse sorridente – Quais são os ingredientes ‘Chef’?
            - Morango, suspiros e Marshmallow. Sabe fazer? – perguntou.
            - Oh Yeah – disse sorridente. Pelo jeito aquela noite seria longa.
            Com o passar do tempo o clima ali se tornou quente e acolhedor, ambos trocavam ideias sobre receitas e experiências culinárias como se fossem dois ‘Chef’s’ de cozinha. Estavam se dando tão bem que nem perceberam que em alguns momentos eram observados por alguns pares de olhos.
            Will colocou a pizza para assar e se sentou para observar a garota terminar a sobremesa de morango. Olhando para ela seu coração repentinamente aqueceu. Ela estava sendo tão cuidadosa no preparo da sobremesa que nem notaria a pequena presença de seus olhos.
            Para ele Helena parecia tão preciosa que poderia se quebrar. E aqueles olhos, aqueles graciosos olhos cor do céu, pareciam querer a todo o momento o capturar e levar para longe de sua sanidade. Completando seu tormento, seus lábios rosados pareciam estar atraindo os seus, desejosos para se encontrarem novamente.
            Não sabia quanto tempo estava ali a detalhando em sua mente, mas ao perceber que ela o encarava não pode deixar de ficar rubro.
            - Algum problema comigo Will? – perguntou Helena.
            - Não, não. Por quê? – disse tentando disfarçar a gafe.
            - Nada não. – respondeu por fim após lembrar a forma que ele estava olhando para ela.
            - Então, Helena, por um acaso você tem namorado? – perguntou tentando puxar conversa.
            - Por que quer saber isso? – perguntou Helena estranhando a pergunta.
            - Só quero saber.
            - Pois saiba você que eu não respondo esse tipo de pergunta – disse a ponto de sair da cozinha.
            Vendo a reação inesperada dela, Will, impedindo que ela saísse dali, segurou o braço de Helena e o puxou fazendo-a cair sentada em seu colo. A aproximação era demais, ele já estava em seu limite.
Olhares profundos eram trocados e ambos não sabiam o que fazer, até que ele repentinamente por instinto levantou sua mão e começou a acariciar o rosto de Helena. O coração do rapaz estava mais agitado que o Sambódromo no carnaval. Os lábios de Helena pareciam imãs que o estavam atraindo. Ele, não raciocinando direito, foi chegando cada vez mais perto de Helena. Queria provar por completo aquele gosto aparentemente desconhecido.
            - O que você pensa que está fazendo? – perguntou Helena a ele tapando rapidamente seus lábios, fazendo o garoto acordar.
            Ele poderia ter a beijado a força, mas não seria algo que um homem deveria fazer. Will estava desconcertado, e se sentia fraco por não conseguir aguentar seus desejos.
            - Desculpa – disse se afastando.
            - Não... – falou Helena levantando-se – Você... você.. o que estava pensando? – perguntou um pouco surpresa e abalada pelo ocorrido.
            Helena olhava incrédula para ele. Não conseguia entender o motivo daquele quase beijo. Estava assustada e preocupada. Como pode ser tão levada a ponto de quase cair naquela tentação advinda daquele caloroso rapaz? Não podia negar que naquele momento ela estava hipnotizada por ele, mas ela não seria sincera com este tipo de sentimento.
            - Desculpe Helena, não estava pensando direito. – disse Will tentando concertar o erro.
            - Vamos fazer o seguinte, vamos esquecer o que aconteceu aqui, ok? – disse já recomposta.
            “Esquecer? Por que, Helena, para você todos os nossos momentos precisam ser esquecidos”’, pensou Will. Porque Helena sempre queria esquecer aqueles momentos que eram inesquecíveis para ele?
            - Quem cala consente. – disse Helena, por fim, saindo do local.
            “Por que eu tenho que te deixar ir? Por que eu tenho que te esquecer? Por que eu não posso... Não quero te perder, por isso pelo menos fique perto de mim”, pensava o rapaz enquanto fitava o chão sem expressão.
            “Se eu perdi a cabeça naquele dia acredito que foi apenas para roubar mais um pouquinho do seu coração”.

            Assim que Helena sentou-se a mesa todos ali perceberam que havia algo que a incomodava. Ela estava corada, e, aparentava ser de vergonha e constrangimento. O que Will havia dito para ela que a deixara daquele jeito?
            Aos poucos terminaram de ajeitar os detalhes mais importantes e logo estavam prontos para provar a majestosa pizza de Will. Kingone ajeitou a mesa com a ajuda dos convidados e logo começaram a degustar. Entretanto algo estava errado, eles sentiam aquilo. Will estava sem jeito e parecia querer dizer algo a Lena, mas ela não se atrevia a levantar os olhos do prato, como se tivesse medo de encarar Will.
            - Lena, o remédio não fez efeito? – perguntou Luna estranhando o comportamento da menina.
            - Fez. Mas ainda dói um pouco. – omitiu.
            - Tem certeza?
            - Luna... depois falamos sobre isso, ok? – sussurrou a menina tentando não chamar a atenção dos demais, o que não deu certo.
            - O remédio não fez o efeito Lena? – perguntou Kin – Quer outro? O Will deve ter outros porque sempre tem enxaqueca.
            - Não precisa Kin. Agora dói só um pouco, mas é de cansaço. – explicou.
            - Quer deitar no sofá da sala? – perguntou Will demonstrando preocupação.
            - Não precisa Willian – respondeu fitando o prato, ainda estava constrangida demais para encará-lo. – Vou ligar para o meu Oppa vir me pegar. – disse já se levantando, discando o número de seu irmão.
            Luna olhava preocupada para a amiga. Sabia que algo a incomodava e que ela não lhe contaria ali. Olhou de Lena para Will e de Will para Kin, e percebeu que o último estava tão receoso quanto ela. Talvez tivesse que conversar com Kin, já que ele aparentava saber de algo.
            Aproveitando a situação Will levantou-se e foi até o seu quarto, pegou um edredom e um travesseiro. Na sala de jantar os demais discutiam assuntos diversos, e não perceberam o menino retornando. Ele foi até a sala e encontrou Lena deitada no sofá, aparentemente dormindo. Deixou o travesseiro na mesa do centro e esticou o edredom a cobrindo. Assim que o fez, Lena abriu os olhos e fitou Will, indecisa.
            - Quer o travesseiro também? – perguntou tentando quebrar o silêncio, se sentando na mesinha.
            - Aham. – disse já pegando o travesseiro e se acomodando.
            - Lena, eu... Me desculpe. Sério... não sei o que estava pensando. Estou me sentindo culpado e mal pelo que aconteceu. Você poderia me perdoar? – pediu um pouco sem jeito.
            - Está sendo sincero? –perguntou ela, encostando sua mão lentamente sobre a do menino, que enrubesceu com o ato.
            - Estou, aprecio muito a sua companhia e não quero perder sua amizade por um erro meu.
            Helena segurou fortemente a mão do rapaz e sentiu seu coração pulsar muito mais forte do que o normal. Não entendia porque ouvir aquilo de Will a deixara um pouco triste. Talvez lá no fundo ela não quisesse a companhia dele apenas como amiga, e tirar esta conclusão a assustou um pouco.
            - Will, eu o perdoo. Já disse que devemos esquecer isso. – sussurrou – Não se culpe, essas coisas acontecem.
            Will estava cabisbaixo e achava-se um tolo por não saber realmente o que estava sentindo pela pequena deitada a sua frente. Apenas continuou ali entristecido com todos aqueles acontecimentos, enquanto Lena segurava sua mão.
            Estavam tão distraídos que não perceberam que Kin e Luna estavam ali na porta da cozinha assistindo a tudo. Logo que toda aquela cena terminou olharam-se como cúmplices, pelo jeito teriam muito trabalho pela frente.


[1] Neosaldina. Inimigo nº1 das dores de cabeça.

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