quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

[Se...] 2º Capítulo


2º Capítulo – Um novo começo?
“ Fique ao meu lado até o sol nascer, pela última vez.”
            Os dias que se seguiram foram angustiantes. Will aparentava ser um espantalho que passou o fim de semana inteiro a espantar o corvo de sua plantação, ou no caso dele, a espantar estranhos pensamentos e imagens. Já Helena aparentava estar radiante por fora, mas seu interior estava mergulhado em indecisões. Agradecia a Deus por conseguir fingir que tudo estava bem.
            O problema para eles teve seu inicio no começo da semana, após o ocorrido, e se repetiu pelo restante dos dias. Will pegava o transporte coletivo, no Terminal Central. Helena se juntava ao comboio um pouco mais tarde. Ao saírem do mesmo acabavam trocando olhares que os deixavam sem reação, e totalmente vermelhos, fingindo não se conhecer. Entretanto, mesmo com esforços, acabavam se lembrando do ocorrido e começavam a se perguntar o que poderiam fazer, pois ele estava se tornando um louco por não compreender aquela situação, e ela começava a se sentir errada por ter tais pensamentos sobre o menino.
            - Como posso fingir que nada aconteceu se cada vez que eu respiro eu penso nisso? – proferiu pensando alto.
            - Tá falando comigo ? – perguntou Kingone.
            - Ah! Esquece. – dizia por fim Will cansado de seus próprios questionamentos. - Kingone acho que vou virar padre. (...)
            - Nina acho que vou virar freira! – dizia Helena.
            - Não adianta! O que te aflige continuará na sua cabeça mesmo que você se enclausure. – respondiam achando ambos bobos demais por manterem seus problemas trancafiados em seus corações.
            Will enfrentava um dilema em sua vida, um dilema que nem em seus sonhos conseguia se ver livre. “Naquela fraca luz vinda da porta, não sei como seus olhos se transformaram em um azul céu que capturaram a minha sanidade, assim como seus lábios capturaram o meu desejo. Se você não me der à resposta para este tormento não conseguirei libertar-te de meus pensamentos”, mentalizava Will tentando inutilmente dormir.
Parece que foi ontem, e hoje já é difícil pensar em mim sem pensar em nós, este nós que não existirá.”

            Uma nova amanhã havia chegado, e aquelas semanas sem dormir transpareciam nos olhos do pequeno mancebo que se irritou ao pegar o transporte coletivo com a aparente radiante menina problema. Chegando a Universidade o rapaz desceu rapidamente do ônibus, rumando assim para a sua sala de aula. Entretanto, ao perceber a demora ao ser ultrapassado pela menina problema, o que ocorria todos os dias, virou-se para tentar encontra-la.
            Helena ainda estava passando pela roleta do ônibus. Era a última passageira daquele motorista aparentemente apressado. “O que ela está fazendo?”, pensou se aproximando do ônibus, “Se ela não se apressar...”, contudo este último pensamento veio tarde demais.
            Chegando até a porta Helena calmamente colocou seus pés na calçada sendo surpreendida ao não conseguir avançar, sentindo um forte puxão nas costas. O cobrador, que parecia ser um homem extremamente ‘sensível’ havia dado sinal ao motorista para que o mesmo fechasse a porta, o que fez com que ela ficasse com a bolsa presa. Tentando em vão tirá-la dali acabou se desequilibrando, torcendo assim seu tornozelo direito.  (Na realidade isso parece ser muito cômico, desesperador também, mas ainda assim cômico).
            Will olhou para ela meio desesperado e foi em sua direção. Não estava gostando nem um pouco de vê-la naquela situação incomoda.
            - Você está bem? – perguntou, observando aquela expressão de dor dela. – Ei! DÁ PRA ABRIR ESTÁ PORTA?- gritou ao cobrador que atendeu prontamente o seu pedido.
            Ao abrir a porta, a bolsa de Helena se soltou fazendo com que ela topasse com o meio fio e perdesse completamente o controle acabando por cair inteiramente sobre Will, que a envolveu fortemente pela cintura. Dois corações pulsavam compassados, em ritmos frenéticos, como se fossem feitos para tocarem a mesma sinfonia, como se fossem um só. Os dois mantiveram um contato visual interminável, ele observando aqueles límpidos olhos azuis, ela aqueles brilhante mar castanho escuro. Se Deus tivesse dado a oportunidade ficariam daquele jeito para sempre.
            - Dá próxima vez tenha mais cuidado. – gritou o cobrador da janela do ônibus que já partia.
            - Tortuguita – sussurrou brava, olhando e se perdendo novamente nos olhos de Will.
            Por algum motivo os olhos do menino tranquilizaram Helena de um jeito que nem o seu irmão e seu melhor amigo conseguiam. Percebeu então que estavam abraçados no chão ficando rubra pela situação. Desgrudou-se do menino lentamente, pois seu tornozelo doía muito, além de que algo em seu coração pedia para não tirar os olhos daquele viciante mar castanho.
            Ele ajeitou-se, ajudando a se levantar e a sentar nos bancos ao lado do ponto de ônibus. Will queria ver se estava tudo bem com ela, tendo a permissão transmitida pelo olhar de Helena para prosseguir. Com isso levantou um pouco a barra da calça dela, abaixou à meia, e notou que o tornozelo dela estava levemente arroxeado.
            - Consegue andar? – perguntou preocupado.
            - Acho que sim. Não foi tão forte. – concluiu levantando e dando alguns passos para confirmar. “Com tantas pessoas na faculdade, por que foi você que me ajudou? Por quê? Você é quem eu devo esquecer”, pensava Helena.
            - Tem certeza. – questionou ao ver sua cara de dor.
            - Uhum – sussurrou – Obrigado pela ajuda.
            - Não foi nada – disse sem jeito.
            Mancando calmamente Helena dirigia-se para a sala de aula sendo vigiada por ele. A dor era forte, porém devia se manter firme fingindo estar bem, pois não pediria ajuda a ele, alguém que jurara fingir que não conhecia. Entretanto, atento a todos os movimentos dela, Will percebeu o quanto estava doendo, chegando mais perto e encaixando de surpresa seu ombro no braço dela, sustentando-a.
            - Pare de fingir e não recuse minha ajuda. – falou, antes que Helena lhe desse uma bronca, o que não aconteceu.
            - Ok – sussurrou, vencida, o assustando por sua atitude – Qual é o seu nome?
            - Willian Kang e o seu?
            - Helena – cochichou.
            - Me responde uma pergunta? – questionou com uma cara engraçada.
            - Dependendo.- disse Helena com uma expressão de sapeca.
            - Por que você chamou o cobrador de ‘Tortuguita’?
            - Ah, isso! – exclamou com um belo sorriso no rosto – É por causa da propaganda do chocolate: ‘Estúpida’. – respondeu abrindo ainda mais aquele sorriso que foi respondido por ele, ficando calada logo em seguida.
            O caminho até a sala de aula foi conturbado por emoções, sentimentos e batimentos cardíacos acelerados. Aquele rosto conhecido por sua brancura, incrivelmente ganhara um leve rosado. Will estava a se tornar o homem com a alma mais pura do mundo. Já Helena estava como um pimentão e sabia que pelo jeito não poderia mais fingir que não o conhecia. Os dois juntos pareciam um belo casal atrapalhado e completamente apaixonado que apenas ao trocarem olhares ruborizavam por inteiro.
            - Helena? – chamou aquela voz que a arrepiava – O que aconteceu?
            - Ah. – sussurrou assustada – Ah, oi Dan, ^^! Tudo bem? – respondeu animada.
            - Sim, sim. O que houve? – perguntou o moço, que aparentava ser mais velho que Will.
            - Torci meu tornozelo quando fui descer do ônibus e o Will está me ajudando a ir para a sala. – disse calmamente.
            Ao ouvir seu nome pronunciado por seus lábios rosados uma chama acendeu e iluminou o coração de Will, arrebatando a alma de seu corpo. Realmente ele estava ficando louco, um louco por não saber o que sentia. O rapaz que havia perguntado a Helena como ela estava se aproximou mais do aparente ‘casal’ e encarou fixamente Will e seus braços intrusos que sustentavam Helena.
            - Você pode ir agora. Eu a levarei até o seu destino. – proferiu a Will, o afrontando.
            - Não tem problema, estamos indo para o mesmo lugar. – “Quem é você, seu estranho?”, questionava internamente.
            - Não. – respondeu, tirando os braços de Will que estavam ao redor do corpo de Helena tomando assim seu posto – Meu dever é protegê-la. – sussurrou a carregando até o bloco Q.
            Willian não conseguia entender os motivos que levaram aquele cara a agir daquela forma, mas independente disso ele havia se irritado muito com a arrogância que o rapaz demonstrou. Por que ele, Willian, não poderia ajudar Helena? O que ele havia feito para ser tratado daquela forma por um cara como aquele?
            Helena apenas olhou para trás tristemente, o movimento de seus lábios formavam um “Me desculpe”, permanecendo com um semblante arrasado. “Quem esse cara pensa que é para roubá-la assim de mim?”, pensou com os nervos à flor da pele. “Ninguém rouba o que é meu! O que é isso Willian? Desde quando ela é sua? Pare de pensar coisas estranhas, pare!”, retrucando assim entrou em sua sala.
            “Foi uma pequena emoção, mas inesquecível”.


            - Por que você fez isso com ele? Ele só estava me ajudando!! – exclamou Helena.
            Dan olhou para ela raivoso, suavizando aos poucos sua expressão. Quando é que eles imaginariam que seriam tão próximos assim? Nunca, eles sabiam muito bem aquela resposta.
Danniel tinha 22 anos e cursava Engenharia Eletrônica. Era um típico polonês muito bonito, com seus olhos azuis claros, seus cabelos castanhos curtos e aquele par de óculos de grau que para Helena o deixavam irresistível.  A vida havia pregado uma grande e complicada peça na vida de Helena e Dan. Certo dia, Helena estava saindo de sua aula de coreano, teria que voltar a pé para casa naquela noite fria e sombria de segunda-feira.
            Naquela época já fazia um ano que ela observava os passos de Dan e, mesmo ele não acreditando em coincidências, vê-lo na escola de idiomas em que estudava, aprendendo italiano, foi uma grande surpresa pra ela.
            Caminhando lentamente por aquelas ruas, Helena avistou um grupo de bêbados que sem demora começou a mexer com ela. Dan, que estava retornando para casa, viu a menina e o medo aparente em sua expressão, visualizando assim o grupo de homens mal-encarados e bêbados que a seguia.
            Por fim um deles conseguiu alcança-la, segurando assim seu braço a impedindo de prosseguir. Naquele momento o coração de Dan estremeceu em seu peito, seu cérebro estava em ativa e ele passou a agir por puro impulso, parando bruscamente o carro entre Helena e o restante do grupo.
              Nem em sonho Helena havia pensado em Dan como um anjo protetor. Por talvez raiva ou medo, Dan desceu do carro e com os punhos fechados acertou um belo e extraordinário soco no bêbado que segurava fortemente Helena, fazendo-o a soltar e fugir em disparada juntamente com seu bando.
            Helena estava em estado de choque e cambaleou se deparando com o chão.  Dan olhou-a e ficou surpreso ao perceber quem era segurando seus ombros, a amparando. Naquele dia ele prometeu ao seu coração e a Helena que nunca a abandonaria e iria protegê-la para sempre.
            - Hein Dan? Não vai me responder? – questionou Helena com uma das mãos na cintura, fazendo beiço.
            Ele adorava quando ela ficava brava, mas sabia que não deveria tirá-la ainda mais do sério naquele momento. Por que ela estava tão irritada com ele? Qual era a relação daquele rapaz com sua pequena protegida?
            - Por que Helena? Não prometi que sempre a protegeria?
            - Dan desculpe. – sussurrou se sentindo culpada.
            - Porém, posso saber qual é a sua relação com aquele homem? – questionou intrigado, em um tom irônico.
            Helena ficou um pouco nervosa com a pergunta de Dan. Mesmo o considerando como um irmão mais velho algo em seu coração dizia para que ela não contasse nada do ocorrido há três semanas. Suspirou e olhou firmemente para o melhor amigo que a inspirava e era a sua admiração.
            - Sabe, Will apenas estava me ajudando. Além do mais acho que ele queria se desculpar por um desentendimento que tivemos alguns dias atrás. – disse aparentando sinceridade.
“A bondosa e a inocente Helena ainda acredita nas pessoas”, pensou Dan, “Devo mantê-la assim para sempre!”.
            - Então, talvez ele tente se desculpar outra hora – sugeriu, observando a expressão da menina – Hey Helena, pare de fazer bico e não me culpe pelo que aconteceu, só estava cumprindo a minha promessa. – proferiu se aproximando mais dela depositando assim um beijo em sua testa. – Até.
            - Até meu Anjo. Obrigado pela ajuda. – gritou, enquanto Dan se retirava imerso em pensamentos. Ela o viu se afastar se culpando um pouco por ter que omitir alguns fatos para ele.
                        “Helena, não se preocupe. Aquele rapaz não irá mais mexer com você. Eu, Danniel Hozskosz[1] cumprirei minha promessa. Não se esqueça: Estarei sempre com você”.
            “Fique em silêncio e escute meu coração, que só pulsa assim quando estou com você. Você entende o porquê de tudo isso?”

            - Quem aquele cara pensa que é? – resmungava Will sentado em sua cadeira. A raiva e o ciúme corroíam o seu coração, transformando-o em um grande redemoinho de culpa. Talvez se ele tivesse sido mais persistente ainda estaria com o calor dela em seus ombros.
            - Fala Will! Por que não me acordou hoje? – perguntou Kingone ao entrar na sala, sentando ao seu lado.
            Will emanava uma péssima aura naquele momento, e olhava para ele com um olhar assassino. “O que deu nele? Por que a atmosfera ao redor dele parece perigosa?”, pensou Kingone.
            - Você chegou para a aula, não chegou? Então não me perturbe, eu não sou o seu despertador particular. – respondeu Willian ironicamente.
            - Como se custasse muito você bater na minha porta. Desse jeito vou me mudar e deixar você morando sozinho naquele apartamento, seu ingrato. – comentou Kingone de brincadeira - De fato, acho que não custa nada você me acordar já que estudamos no mesmo lugar, fazemos o mesmo curso e moramos na mesma casa. – concluiu seriamente, fazendo com que Will o olhasse com raiva, mas a raiva de Will logo passou e ele se entregou a uma corrente de risada.
            - O que foi? – perguntou Kin, percebendo que ele era o motivo das risadas.
            - Você... Hahahaha... Está com o par de chinelo errado.... ahahhaha – disse em meio ao riso.
            Kingone olhou surpreso para Will observando em seguida suas próprias roupas. Estava com uma camisa listrada roxa, com uma calça jeans e com um par de chinelos. Roupa básica, a primeira que viu no guarda-roupa, já que estava atrasado. Mas de fato, havia trocado o par dos chinelos, estava com um chinelo branco no pé direito e um chinelo preto no pé esquerdo.
            - O que achou? Feel like Yin e Yang. – comentou brincando da própria falta de sorte, fazendo Will rir ainda mais.
            Logo o professor chegou, mas, mesmo com as brincadeirinhas de Kingone, Willian não conseguia parar de pensar. Sem ter mais consciências de seus atos, pôs-se a imaginar planos e mais planos mirabolantes, tentativas de derrotar aquele estranho que a roubou dele. Repentinamente se levantou da cadeira assustando toda a turma. Por que ele estava a imaginar aquilo se ele não possuía nenhuma relação com ela? Por que ele estava se preocupando com tão pouco? É estava na hora dele expor a situação para o ‘Psicólogo de Plantão’.
            - Willian? O que foi?- perguntou o professor.
            - Estou pensando. Fique quieto antes que eu perca minhas conclusões. – disse, virando-se para ver quem havia lhe dirigido à palavra, gelando ao olhar a expressão de incrédulo do professor. – Desculpe-me professor, pensei que fosse o Kingone.
            Respirando fundo o professor de ‘Métodos de Matemática Aplicada’ o fuzilou, dizendo:
            - Dá próxima vez se lembre de que isto aqui é uma sala de aula, não um boteco! – comentou enfurecido fazendo a turma cair no mar do riso.
            Will estava constrangido. O que a vida dele estava virando? O que ele estava se tornando? Sentando-se novamente, fechou os olhos tentando entender seu errante coração.
            Desde quando se sentia assim? Desde o ocorrido. Quando ele via Helena, o que acontecia? Seu coração pulsava forte, sua cor tornava-se vermelha e seus lábios desejavam os dela novamente. E se ele nunca mais a visse? Talvez seu coração parasse de bater. E se ela e aquele cara tivessem algo? Ele lutaria com todas as forças para tê-la ao seu lado.
            Will petrificou assustado, analisando o reflexo de suas respostas. Sim, parecia que ele estava apaixonado e tendo enfartes de ciúmes. Se ele não pudesse esclarecer aquilo com ela, seria um homem, não, nem um homem seria. Seria um projeto de ser humano desestruturando-se.
            “Quando a primeira estrela surgir no céu, recordarei do seu brilhante sorriso.”

            À medida que a manhã passava Helena, aos poucos, começou a acostumar-se com a dor, mas assustou-se ao constatar que o arroxeado no seu tornozelo havia inchado demasiadamente. Seu coração também doía e estava dividido, pois sentia muito pelo ocorrido com Will e ainda mais culpada por ter brigado com Dan.
            - Helena, tem certeza que está bem? – perguntou Pietro abraçado Nina.
            - Sim cunhado, eu estou bem. – omitiu – Mas, me diga uma coisa caboclo, qual é o esquema de vocês dois?
            - Nós dois? – perguntou dando um beijo na namorada – É o esquema do amor – respondeu presenteando com mais beijos.
            - ¬¬¨.
            - Pare com isso Pietro! – pediu Nina constrangida – Pare já de me beijar caboclo moreno lindo. – pediu fazendo beiços.
            - Por quê? Não posso demonstrar carinho para a minha amada?
            - Carinho excessivo não! – o respondeu tentando escapar dos ataques amorosos do namorado.
            Aquilo era demais para Helena, Luna, Julia, Beatriz e Emma, tanto que na primeira oportunidade que tiveram escaparam sem demora daquele tormento mental, indo se afogar nos salgados deliciosos da vulga ‘Tia da Coxinha’[2].
            O caminho para lá foi um pouco dolorido para Helena, que o enfrentou com o apoio de Luna e Emma. Não queria encontrar naquele momento Dan, muito menos Will. Sentia-se confusa e sem direção, não conseguia entender o como seu coração se sentia.
            Entretanto, Deus não a deixaria impune. Logo a frente estava Dan com seus amigos, perto do ponto de ônibus. Will estava um pouco mais atrás indo na direção ao carro da Tia.
            - Eu não vou olhar. Eu não vou olhar, não vou olhar, não vou. – sussurrou convencida.
            - O que foi Helena? – perguntou Julia fazendo Helena se virar e concentrar seu olhar no de Will. Ao vê-lo seu coração se alegrou de uma maneira que nunca havia acontecido antes, quis muito tê-lo ao seu lado, sentir o seu perfume e o calor do seu corpo.
            - Droga olhei. – sussurrou constrangida virando-se rapidamente para fingir que não havia o visto, entretanto na outra direção estava Dan a sorrir, fazendo-a se sentir protegida e calma, pois ela sabia que ele sempre estaria ao seu lado.
            Will percebeu a presença de Helena e sorriu indo em sua direção. Dan, por sua vez, vendo a cena tratou de apressar-se envolvendo assim Helena em seus braços.
            A raiva tomou conta do rapaz que percebeu o inesperado semblante abatido da menina. Será que ela e aquele cara possuíam alguma relação? Era isso que precisava descobrir antes que mergulhasse seus pensamentos em preocupações desnecessárias. Achou melhor ir atrás de seu alimento antes de qualquer coisa.
            Ali na fila havia uma das meninas que há pouco estava com Helena. Deduzindo que a menina soubesse de algo sobre o relacionamento de Helena com o rapaz de olhos azuis, decidiu perguntar.
            - Hey! Moça! – chamou.
            - Sim. Pode me chamar de Julia. – completou a menina que estava na fila dos salgados.
            - Julia, pode me responder qual é o tipo de relacionamento daqueles dois? – perguntou constrangido apontando sutilmente para Helena e Dan.
            - Está, por um acaso, falando da Lena e do Dan? – perguntou Julia. “Santa do Yoon Suh Oppa, me abane aqui que tô em fogo!”, pensou seduzida pelo rapaz.
            - É. – “Dan? Então esse é o nome daquele individuo!”.
            - Se está perguntando no sentido de namorados, a resposta é não. O que aqueles dois ali têm é mais pra uma relação de irmã e irmão. Dan já fez muito por Helena, assim como ela já fez muito por ele. – simplificou.
            - Ah! Obrigado! – agradeceu entusiasmado. “Relação de Irmãos? Ah, que bom!”, pensou tomando coragem para ir até ela, deixando para trás uma Julia um tanto quanto confusa.
            Helena abriu um maravilhoso sorriso ao vê-lo, aquele que antigamente era reservado apenas para Dan, que ficou aparentemente magoado. Ele, que estava abraçado a Helena, se surpreendeu quando o corpo dela tornou-se relaxado somente por ouvir a voz daquele forasteiro.
            - Oi Helena. Está melhor? – perguntou preocupado.
            - Oi Will, estou sim! Obrigado por perguntar. – respondeu-o contente.
            “Por que meu coração está a pulsar tanto somente por ver este sorriso? Por que eu sinto ciúmes e inveja deste tal de Dan?”, pensou Will ao desejar ocupar o lugar de Dan.
            “Dan, por que está me apertando tanto?”, pensou Helena percebendo que Dan estava deixando aquele singelo abraço apertado demais. Então encostou sua cabeça no ombro de Dan tentando, em vão, fazer com que ele parasse.
            “Isso Helena. Acabe com as esperanças desse branquelo! Isso minha pequena flor!”, pensava Dan ao depositar um singelo beijo na testa de Helena.
            Will já estava impaciente com aquela situação: constantemente suas poucas horas de sono eram tomadas pela imagem dela, impossibilitando-o de dormir; a cada minuto e segundo ele se lembrava de Helena, o que acabava virando um terrível tormento, então por quê? Por que aquele cara tinha que deixar aquilo tudo mais complicado?
            - Will, não vai me apresentar seus novos amigos? – perguntou Kingone chegando devagar, para a sua sorte, o resgatando de suas divagações.
            - Ah, já estava me esquecendo – respondeu olhando para o amigo com cara de ‘que intrometido você, hein?’ – Pessoal esse é o Kingone.
            - Olá Kingone! – responderam todos.
            - Olá! – disse – Mas por um acaso esse pessoal tem nome? – questionou fazendo todos caírem na gargalhada.
            - Tem sim! – respondeu Luna. – Estas são Helena, Julia, Beatriz e Emma, este é o Dan e eu sou Luna. É um prazer conhecê-lo! ^^
            - O prazer é todo o meu! – respondeu galanteando.
            Dan, aproveitando a situação, decidiu jogar um pouco mais sujo com Will. Não sabia o que ele queria com Helena, mas para ele isso pouco importava. Helena era dele e de mais ninguém.
- Helena, não quer se sentar? – perguntou zeloso Dan, despertando mais raiva e desconforto de Will, chamando assim a atenção de Kingone.
            Como sempre atento a tudo que acontecia em sua volta, Kingone percebeu o desconforto de Will. Seria Helena a raiz de seus problemas e suas noites sem dormir? Seria ela a menina da escada, aquela que estava deixando Will louco?
            - Acho que sim Dan. Obrigado.- agradeceu sentando-se abraçada a ele nos bancos gélidos de madeira ao lado do ponto de ônibus.
Helena vagarosamente deixou-se encaixar na curva do pescoço de Dan e fechou seus olhos, sentindo todo calor e zelo que emanava dele. Olhando aquela cena Will percebeu que era hora de ir, se despedindo por fim de todos.
Para Kingone era óbvio o que estava acontecendo. Parece que naquela tarde ele e Willian teriam uma longa e proveitosa conversa.
            “Devo confiar em você? Não magoará meu coração?”

            - Fale-me de seus males, Srº Kang. - pediu Kingone calmamente a Will.
            Os dois estavam na sala mais escura da universidade, localizada no CALEM[3], com todas as cortinas vedadas para uma ‘psicanálise’, como se Kingone fosse Freud e Will seu mero e perturbado paciente.
            - Tudo começou a três semanas...
            “... Foi em uma manhã fria de quinta-feira. Naquele dia eu estava distraído por causa do telefonema que recebi de minha mãe na noite anterior e acabei não percebendo que meu tênis estava desamarrado. Em um descuido me desequilibrei e cai da escada. Entretanto ali na minha frente havia alguém, e sem querer um beijo aconteceu.”
            - Foi aquele dia que você estava só falando de beijos, não é?
            - Uhum, continuando...
            “... A pessoa era Helena. Não sei se você se lembra como eu fiquei perturbado aquele dia e os que se seguiram. Agora eu não consigo comer, dormir, ou prestar atenção em qualquer coisa que seja, pois eu só consigo pensar nela e quando eu a vejo perco completamente a cabeça. Hoje quando a vi com aquele cara experimentei um sentimento horrível de perda e inveja, e sei que isso é ciúme. Eu tenho medo de perdê-la, dê nunca mais vê-la e principalmente medo de fechar meus olhos, pois sei que sua imagem poderá sumir. Então como eu fico?”
            - Já tentou sonhar? ¬¬¨ - perguntou Kingone, brincando – Bem, acho que já acabou sua sessão.- disse por fim.
            - E você sabe o que eu tenho? – questionou ansioso.
            - Sim, e é algo extremamente simples.
            - O que é? Por favor, me diga! – pediu desesperado.
            Kingone parou onde havia uma pequena fresta do sol. Sua expressão era de terror, mas aos poucos ele foi suavizando-a, até se tornar uma expressão de brincadeira e puro deboche.
            - Você está apaixonado! – sussurrou.
            Will arregalou os olhos assustado com o resultado de sua ‘psicanálise’. Naquelas três semanas que haviam passado em nenhuma hipótese ele havia cogitado aquilo. Estaria ele realmente apaixonado por Helena? Talvez sim, Kingone nunca errava.
           - E se eu realmente me apaixonei por ela? E se essa for a minha única chance de ser feliz? E se...
            - Sei lá, tenho cara de psicólogo? – interrompeu Kingone, sempre de bom humor. – Agora bem que você podia me apresentar melhor aquela Luna como forma de pagamento! – declarou começando a brincar e discutir com Will naquela sala escura.
            Se estava realmente apaixonado por Helena ele não sabia, mas sobre algo ele tinha certeza: “Farei de tudo para que a presença dela torne-se realidade em minha vida. Helena, estarei esperando por você!”.
            “Abraçados, apenas deixaram o vento roçar de leve seus rostos. Era aquilo que queriam: apenas viver tranquilamente o seu simples amor.”


[1] Sobrenome da minha avó por parte de pai. É um sobrenome polonês e coloquei para homenagear nossas origens XD
[2] Na época que eu comecei a escrever, isso quer dizer em 2011, a Tia era conhecida como ‘Tia da Coxinha’ ou Tia do 50 cents’. Como o negócio ficou famoso a renomeamos de ‘Tia do carro’, já que agora ela vende no carro dela (e deve ganhar muito, aliás).
[3] Lugar onde são lecionadas as aulas de línguas estrangeiras como inglês, espanhol, alemão e francês.

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