quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

[Se...] 4º Capítulo


4º Capítulo – Namorados?
“Aquele momento ficara para sempre em minha memória”.

            Estavam a três dias do tão esperado acampamento, e Kingone só podia agradecer aos céus pelo maravilhoso presente recebido. Se não fosse por Luna e companhia, nunca que ele conseguiria organizar o evento em tão pouco tempo.
            - Que tal? Somos um bom grupo não? – perguntou Kingone a Luna enquanto terminavam de separar o dinheiro para a compra dos materiais.
            - Claro, somos o melhor grupo que já existiu. – disse sorridente para ele. Algo naquele rapaz deixava Luna com borboletas flutuantes no estômago.
            - Mas quem nós mandaremos comprar o resto do material para gincana?
            - Que tal a Helena e o Will? – sugeriu Pietro, se intrometendo.
            - A Helena e o Will? Mas desde aquele dia eles não estão se dando bem. – comentou Nina.
            - Por isso mesmo cravo florido do meu jardim de outono, eles devem se acertar, independente do que aconteceu naquela cozinha.
            - Mas ele tentou beijar ela. – comentou Kin, despertando a atenção dos outros.
            - Beijar? – questionaram todos. Helena não havia falado nada pra eles.
            - É, e a Lena disse pra ele esquecer de novo sobre o que aconteceu.
            - De novo? – todos estavam surpresos, não sabiam nada daquela história.
            - Como assim de novo? – perguntou Julia. O que estava acontecendo com Lena e Will afinal?
            - Eles não sabem o que aconteceu naquele dia na escada. – falou Nina para Kingone. – Eu sei do ocorrido porque eu vi.
            Nenhum deles entendia o que Nina e Kingone estavam dizendo, menos Luna que havia ouvido um breve relato de Kin no dia em que foram ajeitar as coisas do acampamento no seu apartamento. Qual era a relação entre Helena, Will e o verbo beijar?
            Nina e Kingone apenas se olhavam como cúmplices de um ato que não deveria ter acontecido. A única coisa que restava para ambos era explicar para o resto do grupo o que acontecia entre aqueles dois. Talvez eles conseguissem fazer aquele relacionamento virar algo sincero.
            - Os dois se encontraram pela primeira vez já faz alguns dias. Foi algo simples, mas que causou um grande estrago. Will estava descendo a escada e Helena...
            - Estava me esperando na frente dela – completou Nina.
            - Então o cabeçudo do Will tropeçou no próprio cadarço e tombou pra frente e foi parar ‘nos braços de Helena’. Só que, como os dois se desequilibraram e coisas do gênero...
            - Quem se desequilibrou e coisas do gênero? – perguntou Will interrompendo a fala do amigo.
            O grupo gelou na hora. Ninguém se atrevia a olhar para ele.
            - O que aconteceu aqui? – perguntou Helena um pouco atrás do menino. – Por que estão com essas caras?
            - Sabe como é Helena, acabamos de lembrar que faltam algumas coisas para comprar. Por que vocês dois não vão juntos, já que chegaram atrasados? – perguntou Luna, ágil como sempre.
            - Acho que...
            - Claro que sim. – respondeu Will interrompendo Helena.
            ‘Por quê? Por que você me interrompeu? Eu não quero ficar ao seu lado. Eu não quero.’, pensou Helena enquanto ouvia as instruções de Kingone. Ela não queria admitir, mas ficar perto de Will mexia demais com seus sentimentos. Mesmo que ela o tivesse perdoado, desde aquele dia ela não conseguia ficar muito tempo perto dele. Seu coração batia muito forte, ficava corada, e isso a irritava e, por fim, ela acabava descontando naqueles que estavam perto. O que ela estaria sentindo por ele?

            Após saírem, todos ficaram se perguntando se mandar os dois juntos para as compras tinha sido uma boa ideia. Não sabiam o que poderia acontecer, já que desconheciam as verdadeiras intenções de ambos.
            Helena seguia Willian calmamente, lutando para afogar seus questionamentos. Não queria estar ali. Além disso, não conseguia entender o porquê de sentir borboletas no estômago cada vez que olhava para ele. Repentinamente parou, tentaria um jeito de se livrar dele.
            - O que foi Helena? – perguntou ao perceber a parada da menina.
            - Por que estou seguindo você? - perguntou com cara de brava.
            - Oras bolas menina, pare de birra e venha logo. – disse não a compreendendo. Para ele, ela estava magnífica fazendo aquela expressão.
            - Me dê três motivos para eu ter que seguir você. – falou irritada. Estava perdendo, aos poucos, o pequeno pedaço de juízo que ainda tinha.
            - Então tá. – concordou chegando mais perto – 1º: Eu estou com o dinheiro; 2:º Eu estou com a lista de compras; 3º: Eu sou mais velho que você, por isso o Kingone confiou isso para mim.
            Helena olhou-o incrédula. Willian certamente queria enlouquecê-la. Contudo não adiantava nada ela querer fazer birra com ele, aqueles eram motivos suficientes para que ela ficasse quieta.
            - Ok. – bufou – Então, qual é o primeiro item?


            A tarde passou rapidamente, e com o seu passar Helena começou a odiar ter que segui-lo. À sua volta percebia como olhavam para Willian, as mulheres o desejavam ardentemente e para ela era um grande incomodo. Aos poucos eles se viam rodeados por varias moças, como se Will fosse uma pequena presa disputada por um bando de urubus.
            Ele percebeu que algo incomodava Helena, mas resolveu não perguntar por medo de que o problema fosse sua presença. Ela estava tão linda brava e incomodada que ele se culpou por gostar e não fazer nada.
            À medida que as compras eram feitas Helena percebeu que não podia negar aquela atração. Estava muito forte e visível. Ele a atraía como se fossem dois polos necessitando um do outro. Inconscientemente suas mãos se encostavam como se implorassem o fim daquele tormento.
            Faltavam apenas dois itens naquela lista que mais parecia uma contagem para a liberdade. Entraram na loja de pescaria atrás de cordas, quando novamente suas mãos se encontraram ansiosas por aquele toque. Willian olhou para Helena e tomou sua mão para si, fazendo-a o olhar estranho. Contudo ela nada disse, como se também precisasse do calor de sua mão.
            - O que desejam? – perguntou o vendedor.
            - Precisamos de 30 cordas fortes. Você tem? – perguntou Lena.
            - Temos cordas fortes, mas não sei se na quantidade pedida. Você e seu namorado vão acampar?
            Lena corou ao ouvir a palavra namorado. Will não era aquilo, mas algo no fundo do seu coração queria que fosse verdade. Ele por sua vez sorriu com a especulação.
            - Ele não é meu namorado, mas vamos acampar. – disse Helena fazendo com que Will soltasse a sua mão. Por um momento ela se sentiu fraca, havia se sentido mal pela própria verdade. – Will, você cuida disso?
            - Ãh? Você não está bem? – perguntou estranhando a expressão da menina.
            - Apenas fiquei um pouco tonta. Eu vou um pouco lá fora enquanto você compra. Tudo bem? – perguntou pegando as sacolas que estavam na mão do menino.
            - Uhum, mas não vá muito longe. – pediu sorrindo de leve para ela.
            Assim que Helena se afastou o vendedor, que aparentava ter os seus 40 anos de idade, retornou com uma grande quantidade de cordas. Olhou para a cara pensativa e decepcionada de seu cliente. Dava para perceber que o mesmo estava muito apaixonado e talvez não percebesse aquilo. ‘Ele está sofrendo à toa, assim como eu sofri na minha juventude’, pensou, decidindo puxar papo com o rapaz.
            - Garota muito bonita. Tem certeza que não é sua namorada? – perguntou resgatando Will de seus pensamentos.
            - Ãh? – Será que havia escutado a coisa certa? O vendedor estava perguntado se Helena não era mesmo sua namorada?
            - Sabe, quando eu tinha a sua idade eu também me apaixonei. Queria protegê-la a todo o custo e fazê-la feliz, mas não tive coragem de dizer o que sentia. Ela era minha amiga e sempre estávamos juntos, mas um certo dia ela me perguntou se devia aceitar o pedido de namoro de um outro cara. Eu disse que sim. Me arrependi tanto de ter dito aquelas palavras para ela que até hoje não entendo como pude ser tão covarde. No fim, descobri que ela sempre havia gostado de mim e só havia aceitado namorar aquele cara porque eu não a impedi. – disse por fim entregando a sacola para Will.
            - Mas e o que aconteceu depois que o senhor descobriu isso? – perguntou Will, entregando o pagamento para o vendedor.
            - Além de eu ter adquirido um enorme remorso, tentei ao máximo demonstrar a ela meus sentimentos. Mas era tarde demais, ela já estava muito longe de mim e de meu coração. – concluiu. – Boa tarde rapaz.
            - Boa tarde, e obrigado. – agradeceu Will saindo da loja.
           -Por que fez isso como rapaz? – perguntou uma senhora que saia lentamente do deposito da loja.
            - Oras, meu bem, apenas quis ajudá-lo. – comentou o senhor dando um singelo rosto em sua esposa.
            - Mas por que mentiu pra ele? No fim ficamos juntos, não é?
            - Sim, mas quis facilitar para ele.
            - Não quer vê-lo sofrer, não é?
            - Uhum. Sofrer por amor é bom, mas não quando é você que não enxerga o tamanho do erro que cometeu.
            Enquanto o casal continuava a discutir, Will andava a procura de Helena. Ela disse que o esperaria ali fora, mas onde ela estaria? Ele começou a ficar preocupado. Será que alguma coisa estava acontecendo com ela? Caminhou mais um pouco e a avistou, mas não do jeito que queria. Ela não estava sozinha, e pela expressão dela não estava gostando nem um pouquinho da companhia.

Helena saiu transtornada de dentro da loja. Como poderia ser sincera com o que sentia? E Will só piorava a situação sendo amável com ela e sorrindo. “Por quê? Por quê?”, se perguntava. E se ela estivesse apaixonada por ele?
Resolveu dar uma pequena volta, até que uma vitrine chamou sua atenção. Estavam com promoção de sapatilhas. Olhando atentamente cada preço e mercadoria acabou esquecendo-se de seus questionamentos, até que alguém lhe cutucou, chamando-lhe a atenção.
            - Com licença moça – chamou. O homem parado a sua frente parecia ser dois anos mais velho que Will e aparentemente malhava. Estava usando uma roupa de academia e a olhava com puro desejo. Lena ficou com medo de que algo pudesse acontecer. – Você poderia me dar seu telefone? – pediu educadamente.
            - Ãh? – perguntou estranhando. Quem em sã consciência para os outros no meio da rua para pedir o telefone?
            Não obtendo resposta o cara chegou mais perto de Helena e segurou seu pulso. Ela estava em choque e com medo, não sabia como reagir àquela situação. O cara tentou puxá-la para si, mas nada aconteceu, pois Will a segurava pela cintura a impedindo de se mover.
            - Pode tirar a mão da minha namorada? – esbravejou, encarando o moço. A raiva e o sentimento de posse eram visíveis na voz e nos olhos de Will. Se ele não se controlasse...
            - Ei cara você acha que é quem? – rebateu o homem.
            - O NAMORADO dela. – disse fortemente sem excitação, enfatizando relacionamento – E você, quem acha que é?
            O homem, aos poucos, soltou o braço de Helena enquanto olhava furiosamente para Will. Ao passar por ele sussurrou: “Cuide bem do que é seu”. Ignorando o que foi dito, Willian abraçou fortemente Helena por trás.
            - Tudo bem? Você gosta de estar em apuros, hein? – sussurrou preocupado fazendo-a se arrepiar.
            Ela queria abraçá-lo e sentir aquele calor a protegendo. Ela queria esquecer-se de tudo e apenas se concentrar nele.  
            Pensando assim, Helena se virou, ficando cara a cara com aquele que fazia seu coração ficar descompassado. Olhares eram trocados e cada vez mais a aparente química existente entre aquelas duas almas e corpos os atraíam cada vez mais. Estavam tão perto, tão colados que conseguiam sentir a respiração e as batidas do coração um do outro. Lena fechou os olhos e encostou sua face na dele, sentindo o calor de seu rosto, contudo os dois não aguentavam mais. Delicadamente Will encostou seus lábios aos dela, esperando ver sua reação. Ela deixou-se levar e subiu lentamente suas mãos até o pescoço do menino. Aproveitando, Will aprofundou aquele beijo cheio de paixão e desejo.
            Willian se sentia tão completo que temeu que aquilo fosse um sonho. “Ela tem gosto de chocolate e cheiro de cravo”, pensou. Infelizmente seres humanos necessitam de ar e tiveram que por um fim aquele contato. Ele olhava para ela sem tirar uma das mãos de sua cintura, acariciando o rosto de Helena com a outra. Assim que se recuperou Helena abriu os olhos e o abraçou apaixonadamente.
            - Se você sempre estiver perto pra me proteger, eu sempre estarei em apuros. – sussurrou colado em seu ouvido.
            Ao ouvir aquelas palavras saindo dos lábios de Helena, Will apenas a beijou mais uma vez, um beijo mais apaixonado que o anterior. Por um momento um pensamento passou em sua cabeça: Será que ele poderia guardá-la para sempre em seu coração?
            Por mais que o coração de Helena batesse mais rápido que o normal, ela não conseguia explicar para si o que realmente estava sentindo. O que aquilo queria dizer para ela? O quanto Will mexia com seu sentimento a ponto de deixá-la sem fôlego e totalmente vulnerável?
            De mãos dadas e extremamente corados continuaram as compras sem mais transtornos. Era um pouco vergonhoso para Helena andar de mãos dadas com Will, já que só fizera isso com o pai e o seu irmão, por isso se sentia um pouco tímida e sem ação. Ao saírem da última loja Will teve uma ideia para que talvez aquele clima de receio acabasse.
            - Lena, que tal tomarmos um sorvete?
            - Boa ideia. – disse abrindo um belo sorriso no rosto.
           
Will não conseguia acreditar naquilo. Era perfeito demais para ser verdade. Estar ao lado de Helena lhe proporcionara uma sensação tão boa, que ele simplesmente se deixou levar. Agora, talvez, seu coração já não fosse só dele.
            Sentado ali em uma mesa dos fundos da sorveteria Polar[1], enquanto esperava Helena voltar do banheiro, pensou: ‘Acho que gosto muito dela’.
            - Ela já está demorando- sussurrou, quando o seu celular repentinamente tocou. Era Kingone.
            - Hola Kin.
            - Hola Will. Viu, pode dar meia volta e se dirigir para a nossa humilde residência.
            - Ãh? – perguntou não entendendo.
            - A Helena ligou para mim e pediu pra que eu te desse um recado.
            - Mas...
            - Ela não teve tempo de ir até a mesa te avisar. A mãe dela ligou para que ela voltasse rápido da casa, disse que estava com problemas familiares. Já que ela não tem o seu número, fiquei de te avisar.
            Ouvir aquilo fez Will se sentir ingênuo por ter acreditado em Helena. Será que ela se fora por que realmente estava com problemas familiares, ou será que era apenas uma desculpa?
            - Ah, sim. – disse entristecido – Já chego aí.
            Eram 18 horas daquela tarde de quarta-feira, Will saiu cabisbaixo da loja sem querer pensar em Helena. Talvez ela não tivesse sido sincera com ele. Será que ela iria contra os seus próprios princípios? Enquanto a noite aos poucos tomava conta do ambiente, Willian se entregou lentamente àqueles pensamentos perturbadores.
           
Helena olhava-se no espelho tentando entender o que estava acontecendo. Seu coração ainda batia forte, e ficava ainda mais ao pensar em Will e em toda aquela situação. Ela não sabia se ele só estava brincando com ela, mas se fosse isso ele era muito cruel a fazendo se sentir daquele jeito.
            De repente, seu telefone tocou. Era a sua mãe, Anita. Algo na voz dela dizia que algo não estava bem.
            - Mama[2], o que aconteceu? – perguntou rapidamente.
            - Você precisa vir ao Hospital. AGORA! – implorou sua mãe.
            - O que foi? Por que?
            - Seu irmão foi atropelado. – disse aflita.
            Ao ouvir aquilo Helena se sentiu mal por estar com Will e não com o seu irmão.
            - Qual hospital?
            - Ele está na Santa Casa.[3]
            - Já chego aí – disse sem pestanejar, saindo correndo da sorveteria sem ao menos falar com Will. Pediria para Kingone avisar o menino, algo em seu coração dizia que ela não conseguiria encará-lo.
  

[1] Sorveteria da cidade de Ponta Grossa.
[2] Forma carinhosa de chamar a sua mãe.
[3] Hospital Santa Casa da Misericórdia da cidade de Ponta Grossa – PR.

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