quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A Filha da Lua, por Hana Usagi

"Biah, você que é a única que até hoje eu sei que "fussa" no meu blog, decidi então postar a Luna e o Chris aqui!! Olha não sei se vai ficar bom mais estou já na metade do terceiro capítulo, aquele que você ainda não leu, então que tl começar por um prólogo um tanto diferente ....
P.s.: Ainda postarei videos e fotos!! ^^"
A Filha da Lua, por Hana Usagi

Capítulo 01 - Mudanças em minha vida
" Eu estou esperando por você, esperando por você
Não importa o quão doloroso essas lembranças que desaparecem sejam
Sempre, só esses delicados olhos aparecem
Frequentemente tenho pensamentos incontroláveis dessas recordações
Mesmo que eu diga não, agora, eu não consigo evitar
Eu vivo dentro dessas restantes lembranças de você"
(Sometime-SS501)

A demora corroia meus nervos. Só de pensar que algo poderia acontecer a ambos meu estômago já se revirava. Deveriam ter chego ás dez horas, agora já era meia-noite e nada deles. Pai, mãe, onde estarão vocês?
Desculpe, esqueci de me apresentar. Meu nome é Luna Yue Keyl, tenho dezessete anos e me encontro demasiadamente nervosa pelo fato de que faz quatorze horas que eu não tenho notícias de meus pais.
Lana e Rui viajaram a trabalho pela empresa multinacional Ynawa, que tem sede na cidadezinha de Vicenzzo, no Paraná. Ambos possuem boas posições em tal empresa e, sendo meus pais, possuem um grande compromisso de voltarem inteiros para casa. Será que o Sr. Ynawa não saberia o que teria acontecido com os meus amores?
Direcionei-me para a sala de estar, no andar de baixo. A sala era iluminada por um simplório abajur, fazendo destacar o verde calmante presente nas paredes. No centro do cômodo havia uma pequena mesa de mogno onde permaneciam singelas íris intocáveis e majestosas, minhas flores preferidas. Havia também ali um sofá Tango branco, de A especialista, e um tapete de modelo AR-33 Black, da coleção Nômade, ambos escolhidos a dedo por meus pais, para que futuramente não precisassem ser trocados caso manchassem. Depois de tomar um super gole de coragem, peguei o telefone.
- Telefonia Central. Em que posso ajudá-la?
- Boa Madrugada.
- Pois não, senhorita.
- Gostaria de falar com o Sr. Ynawa?
- Da Multinacional Ynawa.
- Sim.
- Passarei a ligação.
- Obrigada.
Precisava falar com aquele homem, seria por um milagre se ele me atendesse. Por ler muitos livros de dramas, romances policiais, sei que um desaparecimento é noticiado apenas vinte e quatro horas após o último contato com a vítima, mas em meu amargor, necessitava falar com o velho.
- Alô?
- Alô! Quem fala?- pergunta a voz que soa sonolenta.
- Luna Yue Keyl! E você, quem é?
- Christopher Ynawa!
- Que bom que é o senhor!!
- Você quer falar com o meu pai, não?
- Desculpe. É com ele sim.
- (PAAAAAAIIIIIIIIIEEEEEEE) Ele já está vindo.
- Obrigada.
- Alô?
- Quem fala?
- Cristiano Ynawa! Bom, posso saber quem me liga exatamente há uma hora quarenta e seis minutos cinqüenta e seis segundos e setenta e nove milésimos?-pergunta demasiadamente bravo.
- Luna Yue Keyl! Filha de Lana e Rui Keyl.-respondi tediosamente.
- Ora, as pessoas mais importantes da minha empresa!-mentiroso- Como seus pais chegaram de viagem, minha pequena?
Pelo amor de Kami-sama! “Minha pequena”, o que esse velho está pensando? Que eu tenho dois anos de idade e acidentalmente liguei para ele?
- Esse é o problema Senhor, eles ainda não chegaram!
- Como é que é? Isso é trote ou o que? Que eu saiba o casal Keyl nem filha tem!
- Bom, isso não convém no momento. -segurava minha forte vontade de atravessar o telefone e matar o desnaturado que falou isso. - Era para terem chegado às dez da manhã, MAS JÁ SE PASSAM DA MEIA-NOITE! -gritei com todas as forças que possuía, queria transparecer o desespero que sentia.
- Fique tranqüila, moça! Eu verei o que aconteceu e retornarei a ligação!- disse falsamente.
- Obrigado Sr. Ynawa. O tempo o recompensará pelo que está fazendo!
- De nada! Quem disse que eu dou bola para estas pessoas?- fora o que ouvi antes do telefone desligar automaticamente em minha cara.
Se ele não iria me ajudar, deveria pensar em algo para fazer. Para me manter acordada fui preparar um belo balde de café. Peguei papéis e mais papéis e sentei-me na mesa da sala de estar.
A manhã surgiu nublada. Com milhares de folhas aos meus pés, tentava encontrar uma solução. Já havia ligado para a polícia, e esperava o retorno do Batalhão para suavizarem minha dor. Liguei a TV, assim me entreteria em algo.
“Bom dia. Caros espectadores o vôo 456 da Air Guine, sofreu uma pane na tarde de ontem enquanto sobrevoava o Oceano Pacífico. Informamos que a lista de passageiros não poderá ser comunicada. Não sabemos o real motivo de tal acontecimento e os corpos ainda não foram encontrados. Mais notícias no noticiário do meio-dia.”
Será que o vôo 456 da Air Guine era o qual meus pais pegariam para regressar para casa? Em meu desespero, por causa de minha aparente amnésia, não me lembrava de pequenos detalhes, que neste momento salvar-me-iam de um colapso nervoso com várias perguntas de: Quem sou eu, Que lugar é este, etc.
Rapidamente, fui para o meu quarto. Necessitava de meus típicos dois comprimidos neurológicos e dois bons calmantes. Precisava mergulhar em um mundo onde sonhos se realizavam em apenas um estralar de dedos e pesadelos seriam combatidos com apenas um singelo sorriso.
Sonhadora e infantil, como sempre serei, direcionei-me para a cozinha, pegando um copo entupido de água. Sempre detestei engolir comprimidos sem um acompanhante, e a água facilitava o processo. Eu estava determinada a escutar pelo menos o barulho do telefone sendo assim fui para a sala e deitei-me no sofá.
Tomei meus comprimidos e, após descartar o copo em cima da mesa, mergulhei em um sono profundo. Nem um incêndio me acordaria.
“Luzes e mais luzes iluminavam o local. Milhares e milhões de pessoas saiam do que aparentava ser o IML de uma pequena e populosa cidade. Escutava perguntas e mais perguntas, e o barulho de cochichos e máquinas fotográficas. Dois pares de braços gigantes barravam minha passagem e surgiu de um de seus donos a pergunta de horripilar qualquer ser vivente consciente. ‘Identificou o corpo? ’. Minha cabeça girava mais do que o liquidificador e minha respiração se tornou demasiadamente fria. Vozes começaram a ser escutadas, altas batidas na porta de meu coração, ou era de minha casa?”
Murmúrios eram ouvidos de longe. O incessante barulho do telefone era escutado ao fundo. Entretanto minha consciência flutuava no vazio da escuridão e solidão que me preenchiam. Naquele momento não era dona e nem senhora de meus movimentos e atos.
-Ding Dong! DINNNNNGGGGGGG DONNNNNNNGGGGGG! DIIIIIIIIIIIINNNNNNNNGGGGGG DOOOOOOOOONNNNNGGGGGG!
Ouvi a campainha tocar. Mesmo querendo atender a porta, não conseguia levantar. Estava paralisada. Pudera-me ter tomado calmantes demais?
- Luna Yue Keyl! Sabemos que está em casa! Segundo seu vizinho, Gerald Robbins, diz que você não sai de casa já faz algumas semanas!Abra está porta ou colocarei tudo abaixo. -gritava uma voz estridente de mulher. Sim, colocaria todos os meus vidros “para baixo” com esta prática de canto.
Sendo assim, não havendo uma resposta apropriada e nem ao menos um simples barulho, prosseguiram:
- Boa noite! Sou Carla Mendes e falo ao vivo da casa dos Keyl. Pelo movimento aqui parece que muitos cidadãos desejam expressar seus pêsames pela trágica morte do casal na noite de ontem. Soubemos, pelo vizinho do casal, que a filha única de ambos não sai de casa e nem se comunica com ninguém há aproximadamente um mês, pelo fato das férias escolares. Estamos no momento tentando localizar a jovem para que ela possa desabafar conosco sobre a situação.
- DIN DOON!
- Srtª Keyl, sabemos que está aí. Você poderia dar uma palavrinha para a imprensa sobre os últimos acontecimentos?
Alguém forçava a porta. Do lado de fora de minha casa o tumulto era evidente. De repente, ouvi a janela ser quebrada.
- Consegui!
Mesmo com o barulho aparente, permaneci imóvel. Estava em outra dimensão. Inconsciente, apenas conseguia escutar o que acontecia. O barulho foi aumentando, alguém se aproximava da sala.
- Por Kami-sama!- foi o que ouvi antes de algo vir correndo até mim, acho eu, para checar se estava tudo bem.
A porta foi aberta dando a passagem para milhares de curiosos. Um se destacou na multidão. Também, não sei se foi o físico, ou o espiritual que me surpreendeu. Mas cá entre nós, eu não via nada, adormecida em meus pensamentos. Mesmo assim percebia o aglomerado de pessoas em minha volta, o sufocamento era o básico para alguém com problemas respiratórios, quer dizer com duas internações por pneumonia e três por uma grave bronquite alérgica. Senti meu rosto arder e arroxear-se instantaneamente.
- Deixem-me vê-la!- implorava uma voz que percebera a rápida mudança de minha cor.
Então percebi que ele estava ali, ao meu lado. Fui chacoalhada, deveriam achar que eu padeci em meus sonhos, porém não consegui abrir meus olhos e respirar tornou-se uma tarefa difícil. Pareceu-me que ele viu a caixa de calmantes ao lado do telefone, pelo barulho feito. Aproximaram-se de minha orelha e sussurraram:
- Você está bem? Está aparentemente arroxeada!
- Eu estou bem! Só não me sufoquem! Não consigo respirar!- as palavras explodiram de meus lábios, mas meus olhos continuavam fechados.
- Acho melhor vocês saírem!
- Mais e a minha entrevista? Eu ainda estou no ar! Isso vai dar a maior audiência!
Irritado, respondeu-a grossamente:
- Que se dane sua entrevista! Você está invadindo uma propriedade privada! Deveria saber que isso dá cadeia!
- Então, querido, vocês dois também terão que sair!- disse emburrada, Carla Mendes.
- Viemos falar com ela e só sairemos daqui depois disto!- falou o rapaz determinado.
Pelo que pude ouvir, milhares de passos apressados se retiravam de minha casa. Estava enfim a sós novamente. Bem, nem tão a sós. Alguém me pegara em seu colo e estava me levando para o andar de cima. Logo senti um sussurro cálido em meu ouvido:
- Calma, tudo vai ficar bem!- sua voz era extremamente cativante, acolhedora e protecionista. - Poderia-me dizer onde é o seu quarto? – perguntou-me inocentemente.
Entretanto, lembrei-me que estava ainda de pijama, ficando rubra por alguns instantes. Abri meus olhos e encontrei com um par âmbar azulado, que quase chegava a ser púrpura. Ele, por sua vez, percebeu a situação em que me encontrava apimentou-se, porém continuou me segurando.
- Obrigado, mas acho que já posso ficar de pé!-disse-lhe confiante e pensei logo em seguida “tomara que esta confiança passe para os meus movimentos”.
- Tudo bem então. Já que você acha que está bem!
Ele largou-me, entretanto manteve seus braços entorno de meu corpo para que algumas quedas fossem evitadas. Esse simples gesto foi como um apoio para mim, uma vez que minha coordenação motora não estava cooperando.
-Vamos para a cozinha?! – exclamou meio incerto ainda me envolvendo.
- O. K!- respondi pausadamente, por encontrar-me ainda na escuridão de meu sono.
Descemos as escadas, levemente lentos, como dois idosos no fim de sua terceira idade. Ao alcançar a sala o menino de meus olhos substituiu o apoio que seus braços me ofereciam, apenas segurando-me de leve pela mão, o que começou há dificultar um pouco o caminho. Foi então que percebi que não estávamos sozinhos, descobrindo o porquê daquela suposta mudança de “apoio”.
- Boa Noite!- exclamou o homem que aparentava estar em sua meia idade.
- Boa Noite!- respondi educadamente.
- Pelo visto você já conhece o Sr. Inawa!
- Ah?- a afirmativa do homem me deixou em puro e claro choque. Quer dizer que o Sr. Inawa na verdade é um jovenzinho metido a galã de cinema, daqueles dos filmes românticos, e não um velho rabugento e sarna?
Olhei para ele, que ainda se encontrava ao meu lado, pedindo explicações e respostas. Pelo visto ele percebera minha cara de confusão, pois logo em seguida começou a se apresentar.
- Christopher Inawa, filho de Christiano Inawa e Carminda Inawa, é um prazer conhecê-la. – respondeu-me demonstrando um demasiado tédio.
- E eu sou Almiro Novaes, representante da Empresa Air Guine!- exclamou o outro de forma casual com uma expressão um tanto quanto atordoada.
Aquele nome soou como um assalto para os meus instáveis nervos. Em segundos me encontrava prestes a desabar em direção ao piso gélido da cozinha, mas meu corpo encontrou uma barreira que impediu tal ato.
Levantei meu olhar deparando-me com um par de olhos castanhos tranqüilizantes que me levavam para outro planeta. Porém sua voz me trouxe de volta a realidade, o que lhe agradeci internamente.
-Luna, tudo bem com você?-a pergunta me desequilibrou. Percebi então que comecei a me desvencilhar de seus braços e que a cada segundo que se passava eu ficava cada vez mais leve. Sim, eu estava apagando e isto definitivamente não era um bom sinal.
-Me leve até o sofá. - pedi a ele, pra falar bem a verdade meu pedido saiu mais como uma ordem.
O rosto de Christopher era uma confusão só misturada com pitadas delicadas de preocupação, medo e insegurança. Mas mesmo assim ele prestou à devida atenção a leveza exagerada de meu corpo, não questionando minha ordem, levou-me até o sofá.
Precisava relaxar, a tensão era demais para mim. Eu ainda me encontrava sem saber o que aqueles dois belos moços gostariam de saber além de que eu não fazia a mínima idéia se aquilo me agradaria ou não. E se eu tivesse uma recaída na frente dos dois? Com certeza eu nunca iria me perdoar.
E se o que eles falassem para mim me matasse por dentro? E se eu ficasse demasiadamente sem memória e achasse divertido o que eles me falassem? Assustada eu estava por não prever o que poderia sair da boca de ambos os homens além de que eu suspeitava que não estivesse preparada para ouvir algo sobre o acidente com o vôo 456 da Air Guine.
-Luna? Precisa de algo? Você está tremendo!-exclamou Christopher logo após colocar-me colocar no sofá, interrompendo assim meus devaneios.
-Acho que de uma água com açúcar, por favor!- pedi a ele em meio a sonolência.
Christopher dirigiu-se até a cozinha deixando para trás uma Luna emocionadamente abalada. Ajeitei-me na poltrona, como faria em momentos como aquele. Meu corpo formou uma concha escondendo assim temporariamente meu rosto na almofada, onde tudo ficava escuro e sem sentido.
Totalmente ingênua, comecei a prestar atenção à pequena discussãozinha que acontecia em minha cozinha. E aquilo não me agradou nadinha.
- Sr. Inawa, qual é o sentido de tudo isto?- perguntou Novaes.
- De tudo o quê, Novaes?
-Vai ficar se fazendo de empregado para a mais nova órfã até quando?
Meus olhos não falaram por mim e muito menos minha garganta. Estava em pleno choque. Em segundos estava aos prantos, pior do que a mocinha da novela mexicana após perder o seu mais precioso bem para a vilã. Não querendo que ambos vissem meu estado, que de bonito não tinha nada, levantei e em passos largos e silenciosos direcionai-me até meu quarto, trancando a porta. Queria ficar sozinha, e precisava, não, devia organizar meus pensamentos e eles apenas me confundiam naquele momento.
Eu trepidava mais do que uma máquina de lavar roupa e meu fôlego já estava deixando-me atordoada. Meus pensamentos eram apenas um enorme borrão em minha mente e meu coração desfalecido não queria mais funcionar.
Porém meu ele deu um salto ao ouvir uma batida na porta de meu quarto, sendo possível escutar uma voz logo em seguida:
-Luna, abre está porta. Por favor!- pediu-me educadamente, porém como não obteve nenhuma resposta decidiu continuar com os seus incontáveis murmúrios e declarações.
- Luna, você precisa entender que nós não possuímos o controle sobre determinados acontecimentos. Uma vez me disseram o seguinte: “Existem pessoas neste mundo que querem apenas o nosso mal, mas há também aquelas que se machucam apenas porque você está ferida.” Tente pelo menos entender que algumas coisas acontecem em nossas vidas para podermos abrir os nossos olhos e escolhermos o melhor caminho que se deve seguir. Devemos aprender com os nossos erros para que futuramente possamos encarar os acontecimentos. Luna, por favor, tente entender que talvez eles não estejam mais aqui para o seu próprio bem. Tenho certeza de que eles amavam muito você e que você deve estar quase se corroendo de remorso, mas eles devem querer ver novamente o seu sorriso e o brilho dos teus olhos.
Todo aquele discurso de pai, mãe e amigo, me afetou emocionalmente. Será que existiam pessoas que realmente se importavam comigo? Quem realmente era Christopher? Um mocinho ou um vilão? Um amigo ou um simples trabalhador? Mesmo com grandes especulações em minha mente e não importando o meu estado mental decidi fazer algo para apenas dizer que ainda me encontrava viva naquele pequeno e salvador quarto.
-Christopher, - disse abrindo a porta- obrigada! – Não estava esperando por alguma ação da parte dele, mas ele vendo o meu estado deve ter ficado deveras penalizado envolvendo-me em seus acolhedores e reconfortantes braços em um abraço amoroso e gentil.
Pelo tempo que passou a seguir, Christopher acalmou-me tanto que eu quase dormira em seus calorosos braços. Entretanto pudemos escutar Almiro esbravejar no andar de baixo querendo a nossa presença. Sendo assim Christopher olhou em meus olhos tentando ver se me encontrava preparada para enfrentar a fúria de Novaes. Mas por um segundo tive um Déjà Vécu seguido por um Déjà Sentí. Não agüentando a curiosidade e enxugando o restante das lágrimas, decidi perguntá-lo. Mas antes de qualquer especulação ele decidiu tomar o controle da situação.
-Luna, podemos ir?
- Sr° Inawa ....
-Apenas Christopher ou Chris. – corrigiu-me.
- Chris, obrigada por estar sendo super gentil comigo, mas eu tenho uma pergunta a fazer a você.
-Pode pergunta o que quiser. “Tomara que não seja nenhuma pergunta, tipo: Tem namorada?”- pensou
-É uma pergunta meio tola- comentei.
- Não faz mal!- exclamou. ”Elaia, acertei!”.
- Tem certeza de que você não me conhece de algum lugar?
Pela cara que Christopher fez deu para perceber que de todas as perguntas possíveis de se fazer aquela era a que ele menos esperava, parecia que meu novo protetor estava surpreso e confuso com a minha simples especulação. O problema era o seguinte: eu tinha certeza absoluta de que o conhecia de algum lugar. Seus olhos não me eram estranhos, sua voz era uma calma embriagante para mim. Em meus íntimos, meus sentidos pareciam vibrar a cada movimento dele e meu coração entrava em um constante ritmo de marcha. Sem falar de seu inconfundível cheiro de cravo e canela.
Tempos se passaram e nada de sua resposta e, como isso me intrigava, resolvi pressioná-lo. Peguei em suas cálidas mãos e olhei em seus ternos orbes castanhos, ônix, azulados. Ele deve ter se sentido intimidado pelo fato de ter desviado o olhar, deixando apenas a mão pousada sobre a minha.
- Não vai me responder?-perguntei-lhe.
- Não. – respondeu-me friamente.
- Você disse que responderia. – argumentei fazendo cara de brava.
- Eu...
- O que estão fazendo aí que estão demorando tanto? - perguntou uma voz não tão longe de meu quarto.
Com o susto ficamos em uma indecente situação em que eu poderia até jurar ter escutado Christopher dizer: “Ora, ora, Sr. Novaes, vou matá-lo”.
-Sr. Inawa, Srt. Keyl?
O clima se tornou tenso em meu pequeno quartinho. A situação era pior ainda. Christopher se encontrava sentado em minha cama, enquanto o Sr. Novaes esperava estático, em frente à porta, uma explicação, e eu, consequentemente, estava com a cabeça levemente deitada sobre o colo de Chris. Pelo fato dele estar com a cabeça suavemente abaixada, nossos rostos estavam muito próximos. Seu perfume único de cravo e canela me embriagava, seu olhar penetrante e sua boca levemente rosada próxima demais me levou a especular como isso acontecera. Só havia uma conclusão. Eu devia estar louca.
-Sr. Inawa?- chamou-lhe novamente Novaes.
-Sr. Novaes?
- Sim, Sr.
- Espere-nos lá embaixo. –disse com um ar autoritário.
-Mas...
-Nem mais, nem menos...-brinquei resolvendo quebrar o gelo que se instalou no local.
-Nem vezes, nem divididos...-continuou Christopher, adorando tirar um sarro da situação de Almiro.
-Nem raiz quadrada, nem Bháskara...- prossegui Almiro um tanto quanto irritado.
-Vai logo!- gritou Christopher perdendo a paciência.
Almiro em milésimos de segundos se encontrava em outro qualquer cômodo da casa, muito longe de meu quarto, após fugir de um irritadíssimo Chris, fazendo-me rir descontroladamente.
Aproveitando o momento, Christopher olhou para mim rubro, pela indecente situação que nós nos encontrávamos, entretanto o seu olhar não me parecia vergonhoso e o sorriso em seus lábios denunciou-o: ele estava adorando a situação e se divertindo demasiadamente ao ver-me dando inúmeras gargalhadas que me fizeram até chorar.
Recobrando o fôlego vi-o prontamente pronunciar-se:
-Luna...
-Psiu!-interrompi-o. –Acho melhor eu me levantar.
-Por quê?
-É meio constrangedor.
-Você verá que não. – afirmou com um olhar divertido.
-Você é doido? Tem o que na ca...beça?
-O que você acha que tenho?
-Ar....-sussurei.
A óbvia aproximação tapou minha garganta. Ele estava perto de mais e eu não gostava nada disso, pra falar bem a verdade eu adorava, mas por outro lado o momento e a situação eram totalmente inapropriados. Sendo assim vendo a raiva e o medo que transparecia de meus olhos, Christopher recobrou seu cérebro e afastou-se de mim, ficando ligeiramente com o olhar avoado.
-Bem, -disse por fim- não devemos deixar Almiro esperando. Vamos?
-Ok!-disse-lhe ainda avoada – Espere!
-Hum?
-Deixe-me colocar um casaco, está frio!-expliquei-lhe.
Descemos em um profundo silêncio, que obviamente não seria quebrado por nenhum dos dois. Pela sua expressão, ele deveria estar tendo uma discussão interna. Sem pestanejar com seus sentimentos e deveres, chamou Almiro.
-Sr., deves prosseguir.-afirmou
-Obrigado, Dr. Inawa.- isso já estava virando algo estranhamente formal, devo ter sido engolida por um livro da época de 1500- Miss Keyl?
-Ora, ora. É inacreditável!Desde quando fui tele transportada para o final do século XV?
-O que?- perguntou-me Almiro com cara assustada.
-Explique o que quer dizer com isto, Luna. –pediu-me Chris.
-Sem ressentimentos, mas poderiam ser menos formais?- indaguei-os.
-Tudo bem, então, se deseja assim, não posso fazer nada. -esbravejou Almiro. -Sem mais delongas, vamos ao que interessa.
- Notícias são sempre mal vindas nesta casa!- disse-lhe emburrando-me.
- Luna, sente-se aqui ao meu lado. -pediu-me Chris.
Depois que me ajeitei ao seu lado, o que demorou um longo tempo, para minha alegria, simbolicamente, ele segurou minha mão e, ao senti-la, um calor imenso se apoderou de mim. Espantada levei minha mão até seu angelical rosto fazendo com que seu semblante tornou-se confuso.
-O que foi? Algum problema?-perguntou Almiro.
-Chris você está pelando!-exclamei.
-Calma, Luna. Eu sou assim, igual meu pai. Quando estou um pouco nervoso minha pele esquenta rápido e demora a esfriar. Por isso que as pessoas falam que eu sou um pouco esquentadinho. - disse como se explicasse para uma criançinha de quatro anos que dois mais dois são quatro.
-Desculpe. – pedi a ele, um pouco chateada.
- Tudo bem, você não sabia disto.
-Posso? –perguntou Novaes irritantemente nervoso.
-Desculpe-me Almiro. – aproveitando o momento levantei, soltando as mãos Chris. – Eu sei o que você vai pedir para mim.
-Sabe?-pergunta sonsamente.
-Posso parecer ingênua e sem noção, mas burra e idiota eu não sou. – olhei instantaneamente para ele, que parecia confuso.
-Então, o que eu quero de você?-pergunta sínico.
-Apenas três letrinhas, bem pequeninas e significativas!
-Hum?
-IML.
-Instituto Médico Legal. -disse Chris em um tom preocupado- Luna acho melhor você se sentar. – pediu-me novamente olhando ternamente em meus olhos.
-Chris!Vocês acham que eu não sei o que querem?- berrei, não conseguindo segurar as lágrimas- Vocês... Sabe... Quer saber... Isso... Me chamem quando forem.
Não podia enxergar direito por causa das incontáveis lágrimas que escorriam de meus olhos, mas mesmo assim eu não queria enfrentar aquela situação, aquelas palavras que machucariam qualquer um. Queria cair naquele sono profundo de que fui interrompida e dormir para sempre. Estava chorando, feito um bebê, um bebê com suas fraldas molhadas incomodando.
Decidi pegar meus comprimidos e esquecer o mundo. Entretanto para minha surpresa, Chris tomou-os de minhas mãos, aconchegando-me em seus braços.
Pude ouvir Almiro soltar um nervoso: ”Por caridade” antes de se afastar para a cozinha.
Aqueles braços tão ternos e fortes a consolar-me. Aquela voz doce e carinhosa a cantarolar uma cantiga de ninar. E seu inconfundível cheiro de cravo e canela que me deixavam ir para outra órbita. Assim voltei para os meus sonhos, nos braços de meu mais novo vício.

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