3º
Capítulo – Esqueça mais uma vez
“Isso
não é o certo. Por favor, não maltrate nossos corações”.
O
céu estava nublado e as lágrimas das nuvens caíam sem demora e piedade sobre
aquela sombria cidade em pleno outono. Estava frio, e todo aquele tempo poderia
ser um sinônimo de resfriado. Entretanto os universitários não estavam se
preocupando com isso, queriam a todo custo que o acampamento saísse.
Era realmente
difícil unir todo o Campus da Universidade para uma atividade conjunta, e
quando surgiu à ideia de um acampamento, por parte dos alunos de Engenharia
Química, todos os outros cursos agarraram aquela ideia como se fosse um ponto
brilhante de esperança que traria divertimento e atividades sociais, como se fosse
à esperança para o fim daquelas ridículas e toscas rixas.
Entretanto muito
ainda devia ser visto e arrumado, o que estava deixando Kingone louco. Tantas
inscrições a recolher, divisões de grupos, atividades, que ele e os outros
representantes não estavam dando conta do recado.
Ninguém mandou
ser o mais responsável, eleito o organizador e presidente daquela união
estudantil. Agora era ele o único que pagava pelo excesso de confiança que
passava aos outros.
Aquela
quarta-feira não era nem um pouquinho diferente do que os outros dias haviam se
tornado por conta do acampamento. Mal conseguia dormir, comer e pensar em
outras coisas que não fossem aquele maldito encontro de cursos. Estava tão
distraído que não percebeu que Helena o chamava.
- Ei, Kingone! –
chamou-o pela quinta vez e não obtendo resposta cutucou forte.
- Ah? Oi Helena.
– respondeu acordando do transe que se encontrava.
- Kingone você
não está bem. Está escrito isso em seu rosto. Você precisa de ajuda, e é isso
que nós estamos oferecendo a você. - disse diretamente e sem demora.
- Ãh? Como assim Helena?
Não estou entendendo. – perguntou para a menina que há poucos dias conhecera.
- Segundo nossa
representante de turma você está com problemas em organizar as inscrições, os
grupos, e as atividades que cada curso desempenhará. Por isso, nos deixe ajudar.
Dói ver que você está deprimido e sofrendo.
- Você não
deveria se preocupar com isso. – a respondeu sorrindo – São meus problemas, Helena,
não seus e de suas amigas. Por serem meus eu mesmo tenho que dar um jeito de
arrumá-los.
- Podem não ser
os nossos problemas, mas queremos realmente te ajudar. Apenas queremos que esse
acampamento seja o primeiro de muitos, e que eles nunca esqueçam o quanto
pessoas como você trabalharam para que ele desse certo. – respondeu Luna que
surgia atrás de Helena.
- Não seja tolo e
aceite. – disse Pietro – Não é sempre que meninas lindas vem oferecer ajuda a
caras como você.
- Pietro, por favor,
menos. – Nina sussurrou repreendendo-o. – Vamos Kingone, queremos te ajudar.
Aceite isso como uma bonificação por conversar conosco.
Kingone olhou ao
seu redor e constatou que todos aquelas pessoas só queriam que o acampamento
desse certo, nada mais que isso. Estavam prontos para ajudar mais do qualquer
um de seus amigos.
Luna mantinha os
olhos fixos em Kingone, tentando entender seus pensamentos. Desde que se encontraram
pela primeira vez ela arriscava compreender o que aqueles olhos brilhantes
tentavam dizer pra ela. Ela havia se apegado a eles, como alguém se apega a um
bicho de pelúcia, e vê-los aparentemente tristes e cabisbaixos a deixaram
completamente sem chão.
Helena observava
o destino dos olhos da amiga com um grande sorriso no rosto. Todas sabiam que Luna
precisava muito ser amada, respeitada e admirada, e Kingone parecia a melhor
pessoa para ocupar o coração da pequena.
- Acho que não
poderei recusar essa proposta. – respondeu vencido. – Querem começar já?
- Óbvio. Quanto
antes melhor. Vamos fazer esse acampamento ser o melhor de todos! – respondeu Luna
com um enorme sorriso no rosto.
Com o
consentimento de Kin, seguiram todos até a sala vaga mais próxima e postaram-se
a organizar as fichas, para assim poder dividir os grupos. Pelos olhares
cativantes trocados por Kingone e Luna, uma coisa os demais presentes tinham
certeza: aquela semana seria inesquecível.
Por mais que ele tentasse encontra-la
parecia impossível. Nenhum lugar aparentava ter seu brilho, sua presença e
principalmente sua imagem e alma. Desde aquele dia nada mais se encaixava, nem
mesmo seus pares de meia.
Will achava
aquilo até um pouco ridículo. Nunca fora de se apaixonar e cometer loucuras inclusive
em seus pensamentos. Entretanto, será
que aquilo era mesmo amor? Certamente
não.
Os dias foram
passando e ela foi ficando esquecida. Acabou virando apenas um nome, sem um
rosto, um leve borrão em sua mente. Caiu no esquecimento, não total, mas
gradativo, como uma pequena paçoca virando aos poucos uma farofa.
A mente humana é
complicada, ainda mais quando resolve entrar em confronto com o coração. Era o
que estava acontecendo com ele. Na
verdade ele sabia que não podia estar com ela, era errado e certamente só a
machucaria, mas porque era tão impossível apaga-la por completo de seu coração?
- O que tanto
pensa Willian? – perguntou Kingone, entrando em casa com uma pilha horrenda de
papéis – Talvez uma forma de me ajudar?
Will achava
incrível Kingone sempre aparecer quando ele estava em uma luta inconsciente com
a sua mente e coração. Para ele a sensação era de que o amigo o conhecia tão
bem que sabia todos os seus males apenas ao olha-lo.
- Quer esquecer a
sua batalha mental e vir me ajudar? – perguntou novamente Kingone – Faça alguma
coisa de útil, assim você não pensa no que poderia estar pensando. – disse por
fim.
- Você só quer um
ajudante isso sim. – disse birrento.
- Não, tenho
muitos agora, na verdade muitas. – concluiu entregando uns maços de papéis para
o amigo, que espalhou sobre a mesa de cozinha.
- Como assim?
- Algumas pessoas
viram que eu estava sofrendo, ficando nervoso, irritado e estressado essa
semana, e perguntaram se eu não queria ajuda. O mais incrível é que nos nem
convivemos juntos e só conversamos uma ou duas vezes.
- Não vai me
dizer quem é?
- Mas eu já dei dicas muito importantes e simples. Aliás,
eles estão vindo pra cá agora. Ainda bem que a Mari veio limpar a casa hoje.
- Como assim?
Aqui? Vão fazer o que aqui? –perguntou.
- Vamos achar a
melhor forma de separar os alunos em grupos. E prepare-se, você vai fazer uma
comida majestosa para nós.
- Ok, Único Rei!
– disse brincando com o nome do amigo. – Mas vou ao mercado então, não tem nada
na nossa reserva de energia (vulgo geladeira).- afirmou pegando a carteira e
sumindo pelo corredor.
“Vamos pelo menos assim você a esquece e,
além de esquecê-la, conhece gente nova”, pensou motivando-se enquanto se
acostumava com o aconchego da noite que lentamente chegava.
A campainha tocou anunciando a chegada
de todas aquelas cabeças a mais que o ajudariam a encontrar a melhor solução
para o seu problema. Will ainda não retornara do mercado, o que era um alívio,
pois se estivesse ali entraria em colapso certamente. Estavam ali em frente ao
apartamento: Helena, Luna, Nina, Pietro, Julia, Emma e Beatriz.
- Podem entrar.
Sintam-se à vontade. – disse levando-os até a mesa.
- Para uma casa
de universitário está bem arrumada – disse Luna brincalhona.
- É né, hoje era
dia da diarista. – confessou, fazendo todos caírem na gargalhada. – Sentem-se,
quando mais rápido começarmos melhor.
- Certo. Mas
Kingone você mora sozinho? – perguntou Julia estranhando a disposição dos
móveis na casa.
- Não, mas não se
preocupem com meu amigo ele vai fazer a nossa comida. – comentou. (Dá-lhe Will cozinheiro!!!)
- Nos conhecemos
ele? – pergunta Julia, por pura curiosidade.
- Com certeza. –
respondeu Kin olhando de relance para Helena.
Por fim
sentaram-se em volta da mesa de jantar, começando a discutir sobre como fariam
aquela divisão, que parecia um tanto quanto complicada. Kingone achava melhor
separar por sexo, mas o restante dizia que era melhor grupos mistos, até que Helena
se manifestou-se com uma brilhante ideia.
- Por que nós não
dividimos por curso? – perguntou.
- Como assim? –
questionou Julia.
- Bom, primeiro
faríamos uma divisão por curso. Engenharia Química, Mecânica e assim por
diante, assim poderíamos fazer uma campanha de arrecadação de alimentos.
- Tá, mas o
intuito não era mesclar os grupos?? – questionou Kingone.
- Sim, e por isso
na hora distribuiríamos um papel com um número para cada aluno. O número que
estiver no papel equivale ao número do grupo.
- Ah, sim, então
dividiríamos lá, ao mesmo tempo em que faríamos com que cada curso se reunisse
para juntar os alimentos. – pensou alto Kingone. – Mas e como faríamos para
dormir?
- E que tal se na
hora do acampamento não dividíssemos por bloco?
- perguntou Luna.
- Bloco? Até que
não é uma má ideia. Assim faríamos com que houvesse uma interação entre os
grupos que utilizam o mesmo bloco. Por exemplo: Engenharia química, Técnico em
Agroindústria e Tecnologia em Alimentos. – concluiu Kingone – Muito bom.
- Desculpe Kin,
mas discordarei de você. – disse Pietro carrancudo.
- Por quê? –
questionaram todos.
- E eu e a Nina?
Como vamos ficar? – perguntou.
Nina revirou os
olhos. Não entendia como pode se apaixonar por um cara como Pietro, tão
brincalhão, mas o amava tanto, tanto que nada mais importava para ela. Ele em
sua vida já era essencial.
- Simples baby. –
respondeu-o. – Ficaremos separados, assim como todos os outros casais para que o
acampamento não acabe virando um ‘amassamento’.
Todos riram da
cara de desaprovação de Nina para Pietro. Até que ouviram o som da porta se
abrindo e uma voz, que chamava Kingone, pedindo ajuda.
Não conseguiram
ver quem era. A sala de jantar era separada da sala de estar e da cozinha por
uma parede, entretanto Helena sabia muito bem de quem era aquela voz. Inesperadamente
seu coração começou a bater mais rápido, sem ao menos saber o porquê. “O que estou fazendo aqui?”, se perguntou
enquanto depositava lentamente a cabeça que doía intensamente sobre a mesa.
Will abriu a porta e interrompeu
pequenas gargalhadas que vinham da sala de jantar. Havia aproveitado a passagem
no mercado e comprado tudo o que faltava em casa, por isso estava segurando
milhares de sacolas e precisa da ajuda de Kingone.
- Kingone, venha
me ajudar. – pediu, deixando algumas sacolas na porta.
Quanto mais se
aproximava da cozinha começou a ouvir novamente as vozes. Não eram muitas e
pelo jeito sua majestosa pizza certamente serviria a todos. Olhou de relance
para Kingone percebendo a cara de safado que o mesmo estava fazendo, era hora
dele pagar por seu atraso.
- Foi no mercado
do Alasca por um acaso?
- Não, apenas
encontrei o Anthony e ficamos batendo um papo. – respondeu enquanto guardava
nos armários o que não usaria.
- Ok, ok, senhor
popular. Já que adora conversar venha dar um oi pra galera.
- Certo –
concordou seguindo Kingone que olhou para ele esperando uma reação de surpresa.
Ali sentada na sala
de jantar estavam nada mais nada menos que Luna, Pietro, Nina, Julia, Beatriz e
Emma, além de mais alguém que aparentemente adormecia sobre a mesa.
- Boa noite! – exclamou
animado – Quanto tempo?
- Will?! –
disseram surpresos.
O clima que se
instalou era um pouco tenso, os olhares eram trocados entre Will e a pessoa
adormecida.
- É você que
divide o apartamento com o Kingone? – perguntou Nina um pouco receosa.
- Uhum Nina, sou
eu sim. E aí o que querem para o jantar? – perguntou rapidamente.
- O que você vai
fazer pra nós? – perguntou Kingone.
- Pizza!! –
exclamou, deixando todos com água na boca
- Hum, vai
precisar de ajuda? – questionou Kin, já armando um plano secreto.
- Só se vocês
estiverem com muita fome. – disse por fim indo para a cozinha.
Todos a olhavam, ela sentia isso.
Não estava se sentindo bem com aquela situação. O que aconteceria se aquilo
fosse na realidade um Dorama? Qual seria a ação da atriz principal? Fugiria
daquele lugar ou aguentaria aquele indivíduo?
Nina chegou mais
perto dela e tocou levemente seus cabelos, a fazendo levantar a cabeça e
fita-la.
- Helena, quer
ajuda-lo? Você parece cansada, assim vamos embora mais rápido. – pediu para
amiga.
- Eu ajudo, mas é
só porque não me sinto bem. – disse ainda deitada.
- Kingone, tem
remédio pra dor de cabeça aqui? – perguntou Luna, olhando fixamente para Helena.
- Pode ser Neosa*[1]? O Will tem, eu já pego
com ele.
- Pode. –
sussurrou Helena um pouco branca. Odiava quando tinha crises como aquela, se
sentia fraca e inútil, além de não conseguir raciocinar direito, mas mesmo
assim aquela crise não havia atrapalhado o andamento da reunião até aquele
momento.
- Tem certeza Helena?
– perguntou Nina um pouco indecisa com o remédio.
- Melhor ficar
alterada do que dopada. – respondeu Luna no lugar de Helena.
Era muito bom
estar ao redor daquelas pessoas que tanto sabiam sobre ela e que sempre
estiveram dispostas a protegê-la. Mesmo que ela enlouquecesse um pouco com o
remédio, pelo menos toda aquela história ficaria muito engraçada.
Helena possuía um
problema em relação aos remédios de dor de cabeça. Havia um componente em sua
formulação que, ao invés de deixa-la calma, a deixava agitada. Eram nesses
momentos que a loucura se instalava naquele grupo de amigos.
Após tomar o
pequeno comprimido que Kingone gentilmente havia pegado para ela, Helena
esperou cerca de 10 minutos e se levantou da mesa rumando vagarosamente até a
cozinha.
- Hey, o que você
vai fazer? – perguntou Kin preocupado.
- Vou acabar logo
com isso – disse dando um leve sorriso de vitória.
A cozinha
estava solitária demais para ele. Por que ele deveria fazer comida para
aquele bando invasor? Pelo menos um deles poderia se dispor a ajuda-lo a
preparar o rango. E quem era aquela pessoa mal educada que nem teve a decência
de cumprimenta-lo?
- O que tanto
resmunga? – perguntou fazendo-o se assustar.
Virou-se para ver quem era e olhou atentamente para aquela
que graciosamente ria dele. Era um riso bonito e sincero, puro e inocente que o
fez rubro por alguns segundos.
- Desculpe. Não me aguentei. – disse chegando mais perto. –
Precisa de ajuda?
Will sentiu-se
nervoso, não queria tê-la por perto muito menos o ajudando. “Helena por que
está aqui? Por favor, não confunda meu coração”, pensou observando-a. O que
estava acontecendo ali? Incomodado, desviou o olhar e tratou de se concentrar
na receita da massa da pizza. Mas mesmo assim não deixara de notar a cor pálida
da menina.
- O remédio era
pra você? – perguntou sem tirar os olhos da massa.
- Uhum, daqui a
pouco já faz efeito. – disse, aliviando Will que ficara um pouco preocupado,
completando em seguida: - Se não quiser
minha ajuda... – começou a falar, sendo interrompida.
- Não me leve a
mal Helena... – falou olhando-a.
- Seja sincero. –
disse olhando fixamente em seus olhos.
- Sincero?-
perguntou estranhando – Por que eu tenho que responder sinceramente sobre isso?
– sussurrou, pensando alto, esquecendo-se da presença da menina.
- Seja sincero em
tudo que fizer Will, assim as pessoas poderão ver o quão verdadeiro você é e
quanta lealdade você possui. Não adianta você pensar de uma forma e agir de
outra. Para mim esse é o pior tipo de pessoa que existe. – explicou.
Como ele poderia
ser sincero na frente dela? Se ele realmente revelasse o que o coração e a
mente dele estavam pensando certamente Helena nunca mais falaria com ele.
Sinceridade? Aquilo não poderia acontecer entre os dois.
- Nunca pensei por esse lado. – revelou- Então serei sincero
com você. – disse por fim – Na verdade não tem muito no que ajudar com a pizza,
mas se você quiser fazer a sobremesa até que não seria uma má ideia.
- Ok, então eu
faço a sobremesa. – disse sorridente – Quais são os ingredientes ‘Chef’?
- Morango,
suspiros e Marshmallow. Sabe fazer? – perguntou.
- Oh Yeah – disse
sorridente. Pelo jeito aquela noite seria longa.
Com o passar do
tempo o clima ali se tornou quente e acolhedor, ambos trocavam ideias sobre
receitas e experiências culinárias como se fossem dois ‘Chef’s’ de cozinha.
Estavam se dando tão bem que nem perceberam que em alguns momentos eram
observados por alguns pares de olhos.
Will colocou a
pizza para assar e se sentou para observar a garota terminar a sobremesa de
morango. Olhando para ela seu coração repentinamente aqueceu. Ela estava sendo
tão cuidadosa no preparo da sobremesa que nem notaria a pequena presença de
seus olhos.
Para ele Helena
parecia tão preciosa que poderia se quebrar. E aqueles olhos, aqueles graciosos
olhos cor do céu, pareciam querer a todo o momento o capturar e levar para
longe de sua sanidade. Completando seu tormento, seus lábios rosados pareciam
estar atraindo os seus, desejosos para se encontrarem novamente.
Não sabia quanto
tempo estava ali a detalhando em sua mente, mas ao perceber que ela o encarava
não pode deixar de ficar rubro.
- Algum problema
comigo Will? – perguntou Helena.
- Não, não. Por
quê? – disse tentando disfarçar a gafe.
- Nada não. –
respondeu por fim após lembrar a forma que ele estava olhando para ela.
- Então, Helena,
por um acaso você tem namorado? – perguntou tentando puxar conversa.
- Por que quer
saber isso? – perguntou Helena estranhando a pergunta.
- Só quero saber.
- Pois saiba você
que eu não respondo esse tipo de pergunta – disse a ponto de sair da cozinha.
Vendo a reação
inesperada dela, Will, impedindo que ela saísse dali, segurou o braço de Helena
e o puxou fazendo-a cair sentada em seu colo. A aproximação era demais, ele já
estava em seu limite.
Olhares profundos eram trocados e ambos não sabiam o que
fazer, até que ele repentinamente por instinto levantou sua mão e começou a
acariciar o rosto de Helena. O coração do rapaz estava mais agitado que o
Sambódromo no carnaval. Os lábios de Helena pareciam imãs que o estavam
atraindo. Ele, não raciocinando direito, foi chegando cada vez mais perto de Helena.
Queria provar por completo aquele gosto aparentemente desconhecido.
- O que você
pensa que está fazendo? – perguntou Helena a ele tapando rapidamente seus
lábios, fazendo o garoto acordar.
Ele poderia ter a
beijado a força, mas não seria algo que um homem deveria fazer. Will estava
desconcertado, e se sentia fraco por não conseguir aguentar seus desejos.
- Desculpa –
disse se afastando.
- Não... – falou Helena
levantando-se – Você... você.. o que estava pensando? – perguntou um pouco
surpresa e abalada pelo ocorrido.
Helena olhava
incrédula para ele. Não conseguia entender o motivo daquele quase beijo. Estava
assustada e preocupada. Como pode ser tão levada a ponto de quase cair naquela
tentação advinda daquele caloroso rapaz? Não podia negar que naquele momento
ela estava hipnotizada por ele, mas ela não seria sincera com este tipo de
sentimento.
- Desculpe Helena,
não estava pensando direito. – disse Will tentando concertar o erro.
- Vamos fazer o
seguinte, vamos esquecer o que aconteceu aqui, ok? – disse já recomposta.
“Esquecer? Por
que, Helena, para você todos os nossos momentos precisam ser esquecidos”’, pensou
Will. Porque Helena sempre queria esquecer aqueles momentos que eram
inesquecíveis para ele?
- Quem cala
consente. – disse Helena, por fim, saindo do local.
“Por que eu
tenho que te deixar ir? Por que eu tenho que te esquecer? Por que eu não
posso... Não quero te perder, por isso pelo menos fique perto de mim”,
pensava o rapaz enquanto fitava o chão sem expressão.
“Se eu perdi a
cabeça naquele dia acredito que foi apenas para roubar mais um pouquinho do seu
coração”.
Assim que Helena
sentou-se a mesa todos ali perceberam que havia
algo que a incomodava. Ela estava corada, e, aparentava ser de vergonha e
constrangimento. O que Will havia dito para ela que a deixara daquele jeito?
Aos
poucos terminaram de ajeitar os detalhes mais importantes e logo estavam
prontos para provar a majestosa pizza de Will. Kingone ajeitou a mesa com a
ajuda dos convidados e logo começaram a degustar. Entretanto algo estava
errado, eles sentiam aquilo. Will estava sem jeito e parecia querer dizer algo
a Lena, mas ela não se atrevia a levantar os olhos do prato, como se tivesse
medo de encarar Will.
-
Lena, o remédio não fez efeito? – perguntou Luna estranhando o comportamento da
menina.
-
Fez. Mas ainda dói um pouco. – omitiu.
-
Tem certeza?
-
Luna... depois falamos sobre isso, ok? – sussurrou a menina tentando não chamar
a atenção dos demais, o que não deu certo.
-
O remédio não fez o efeito Lena? – perguntou Kin – Quer outro? O Will deve ter
outros porque sempre tem enxaqueca.
-
Não precisa Kin. Agora dói só um pouco, mas é de cansaço. – explicou.
-
Quer deitar no sofá da sala? – perguntou Will demonstrando preocupação.
-
Não precisa Willian – respondeu fitando o prato, ainda estava constrangida
demais para encará-lo. – Vou ligar para o meu Oppa vir me pegar. – disse já se
levantando, discando o número de seu irmão.
Luna
olhava preocupada para a amiga. Sabia que algo a incomodava e que ela não lhe
contaria ali. Olhou de Lena para Will e de Will para Kin, e percebeu que o
último estava tão receoso quanto ela. Talvez tivesse que conversar com Kin, já
que ele aparentava saber de algo.
Aproveitando
a situação Will levantou-se e foi até o seu quarto, pegou um edredom e um
travesseiro. Na sala de jantar os demais discutiam assuntos diversos, e não
perceberam o menino retornando. Ele foi até a sala e encontrou Lena deitada no
sofá, aparentemente dormindo. Deixou o travesseiro na mesa do centro e esticou
o edredom a cobrindo. Assim que o fez, Lena abriu os olhos e fitou Will,
indecisa.
-
Quer o travesseiro também? – perguntou tentando quebrar o silêncio, se sentando
na mesinha.
-
Aham. – disse já pegando o travesseiro e se acomodando.
-
Lena, eu... Me desculpe. Sério... não sei o que estava pensando. Estou me
sentindo culpado e mal pelo que aconteceu. Você poderia me perdoar? – pediu um
pouco sem jeito.
-
Está sendo sincero? –perguntou ela, encostando sua mão lentamente sobre a do
menino, que enrubesceu com o ato.
-
Estou, aprecio muito a sua companhia e não quero perder sua amizade por um erro
meu.
Helena
segurou fortemente a mão do rapaz e sentiu seu coração pulsar muito mais forte
do que o normal. Não entendia porque ouvir aquilo de Will a deixara um pouco
triste. Talvez lá no fundo ela não quisesse a companhia dele apenas como amiga,
e tirar esta conclusão a assustou um pouco.
-
Will, eu o perdoo. Já disse que devemos esquecer isso. – sussurrou – Não se
culpe, essas coisas acontecem.
Will
estava cabisbaixo e achava-se um tolo por não saber realmente o que estava
sentindo pela pequena deitada a sua frente. Apenas continuou ali entristecido
com todos aqueles acontecimentos, enquanto Lena segurava sua mão.
Estavam
tão distraídos que não perceberam que Kin e Luna estavam ali na porta da
cozinha assistindo a tudo. Logo que toda aquela cena terminou olharam-se como
cúmplices, pelo jeito teriam muito trabalho pela frente.
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