2º Capítulo – Um novo começo?
“ Fique ao meu
lado até o sol nascer, pela última vez.”
Os dias que se seguiram foram
angustiantes. Will aparentava ser um espantalho que passou o fim de semana
inteiro a espantar o corvo de sua plantação, ou no caso dele, a espantar
estranhos pensamentos e imagens. Já Helena aparentava estar radiante por fora,
mas seu interior estava mergulhado em indecisões. Agradecia a Deus por
conseguir fingir que tudo estava bem.
O
problema para eles teve seu inicio no começo da semana, após o ocorrido, e se
repetiu pelo restante dos dias. Will pegava o transporte coletivo, no Terminal
Central. Helena se juntava ao comboio um pouco mais tarde. Ao saírem do mesmo
acabavam trocando olhares que os deixavam sem reação, e totalmente vermelhos,
fingindo não se conhecer. Entretanto, mesmo com esforços, acabavam se lembrando
do ocorrido e começavam a se perguntar o que poderiam fazer, pois ele estava se
tornando um louco por não compreender aquela situação, e ela começava a se
sentir errada por ter tais pensamentos sobre o menino.
-
Como posso fingir que nada aconteceu se cada vez que eu respiro eu penso nisso?
– proferiu pensando alto.
-
Tá falando comigo ? – perguntou Kingone.
-
Ah! Esquece. – dizia por fim Will cansado de seus próprios questionamentos. -
Kingone acho que vou virar padre. (...)
-
Nina acho que vou virar freira! – dizia Helena.
-
Não adianta! O que te aflige continuará na sua cabeça mesmo que você se
enclausure. – respondiam achando ambos bobos demais por manterem seus problemas
trancafiados em seus corações.
Will
enfrentava um dilema em sua vida, um dilema que nem em seus sonhos conseguia se
ver livre. “Naquela fraca luz vinda da
porta, não sei como seus olhos se transformaram em um azul céu que capturaram a
minha sanidade, assim como seus lábios capturaram o meu desejo. Se você não me
der à resposta para este tormento não conseguirei libertar-te de meus
pensamentos”, mentalizava Will tentando inutilmente dormir.
“Parece que foi ontem, e hoje já é difícil
pensar em mim sem pensar em nós, este nós que não existirá.”
Uma nova amanhã havia chegado, e aquelas
semanas sem dormir transpareciam nos olhos do pequeno mancebo que se irritou ao
pegar o transporte coletivo com a aparente radiante menina problema. Chegando a
Universidade o rapaz desceu rapidamente do ônibus, rumando assim para a sua
sala de aula. Entretanto, ao perceber a demora ao ser ultrapassado pela menina
problema, o que ocorria todos os dias, virou-se para tentar encontra-la.
Helena ainda estava
passando pela roleta do ônibus. Era a última passageira daquele motorista
aparentemente apressado. “O que ela está
fazendo?”, pensou se aproximando do ônibus, “Se ela não se apressar...”, contudo este último pensamento veio
tarde demais.
Chegando até a
porta Helena calmamente colocou seus pés na calçada sendo surpreendida ao não
conseguir avançar, sentindo um forte puxão nas costas. O cobrador, que parecia
ser um homem extremamente ‘sensível’ havia dado sinal ao motorista para que o
mesmo fechasse a porta, o que fez com que ela ficasse com a bolsa presa.
Tentando em vão tirá-la dali acabou se desequilibrando, torcendo assim seu
tornozelo direito. (Na realidade isso
parece ser muito cômico, desesperador também, mas ainda assim cômico).
Will olhou para
ela meio desesperado e foi em sua direção. Não estava gostando nem um pouco de
vê-la naquela situação incomoda.
- Você está bem?
– perguntou, observando aquela expressão de dor dela. – Ei! DÁ PRA ABRIR ESTÁ
PORTA?- gritou ao cobrador que atendeu prontamente o seu pedido.
Ao abrir a porta,
a bolsa de Helena se soltou fazendo com que ela topasse com o meio fio e perdesse
completamente o controle acabando por cair inteiramente sobre Will, que a
envolveu fortemente pela cintura. Dois corações pulsavam compassados, em ritmos
frenéticos, como se fossem feitos para tocarem a mesma sinfonia, como se fossem
um só. Os dois mantiveram um contato visual interminável, ele observando
aqueles límpidos olhos azuis, ela aqueles brilhante mar castanho escuro. Se
Deus tivesse dado a oportunidade ficariam daquele jeito para sempre.
- Dá próxima vez
tenha mais cuidado. – gritou o cobrador da janela do ônibus que já partia.
- Tortuguita –
sussurrou brava, olhando e se perdendo novamente nos olhos de Will.
Por algum motivo
os olhos do menino tranquilizaram Helena de um jeito que nem o seu irmão e seu
melhor amigo conseguiam. Percebeu então que estavam abraçados no chão ficando
rubra pela situação. Desgrudou-se do menino lentamente, pois seu tornozelo doía
muito, além de que algo em seu coração pedia para não tirar os olhos daquele
viciante mar castanho.
Ele ajeitou-se,
ajudando a se levantar e a sentar nos bancos ao lado do ponto de ônibus. Will queria
ver se estava tudo bem com ela, tendo a permissão transmitida pelo olhar de Helena
para prosseguir. Com isso levantou um pouco a barra da calça dela, abaixou à
meia, e notou que o tornozelo dela estava levemente arroxeado.
- Consegue andar?
– perguntou preocupado.
- Acho que sim.
Não foi tão forte. – concluiu levantando e dando alguns passos para confirmar. “Com tantas pessoas na faculdade, por que
foi você que me ajudou? Por quê? Você é quem eu devo esquecer”, pensava
Helena.
- Tem certeza. –
questionou ao ver sua cara de dor.
- Uhum –
sussurrou – Obrigado pela ajuda.
- Não foi nada –
disse sem jeito.
Mancando
calmamente Helena dirigia-se para a sala de aula sendo vigiada por ele. A dor
era forte, porém devia se manter firme fingindo estar bem, pois não pediria
ajuda a ele, alguém que jurara fingir que não conhecia. Entretanto, atento a
todos os movimentos dela, Will percebeu o quanto estava doendo, chegando mais
perto e encaixando de surpresa seu ombro no braço dela, sustentando-a.
- Pare de fingir
e não recuse minha ajuda. – falou, antes que Helena lhe desse uma bronca, o que
não aconteceu.
- Ok – sussurrou,
vencida, o assustando por sua atitude – Qual é o seu nome?
- Willian Kang e
o seu?
- Helena –
cochichou.
- Me responde uma
pergunta? – questionou com uma cara engraçada.
- Dependendo.-
disse Helena com uma expressão de sapeca.
- Por que você
chamou o cobrador de ‘Tortuguita’?
- Ah, isso! –
exclamou com um belo sorriso no rosto – É por causa da propaganda do chocolate:
‘Estúpida’. – respondeu abrindo ainda mais aquele sorriso que foi respondido
por ele, ficando calada logo em seguida.
O caminho até a
sala de aula foi conturbado por emoções, sentimentos e batimentos cardíacos
acelerados. Aquele rosto conhecido por sua brancura, incrivelmente ganhara um
leve rosado. Will estava a se tornar o homem com a alma mais pura do mundo. Já Helena
estava como um pimentão e sabia que pelo jeito não poderia mais fingir que não
o conhecia. Os dois juntos pareciam um belo casal atrapalhado e completamente
apaixonado que apenas ao trocarem olhares ruborizavam por inteiro.
- Helena? –
chamou aquela voz que a arrepiava – O que aconteceu?
- Ah. – sussurrou
assustada – Ah, oi Dan, ^^! Tudo bem? – respondeu animada.
- Sim, sim. O que
houve? – perguntou o moço, que aparentava ser mais velho que Will.
- Torci meu
tornozelo quando fui descer do ônibus e o Will está me ajudando a ir para a
sala. – disse calmamente.
Ao ouvir seu nome
pronunciado por seus lábios rosados uma chama acendeu e iluminou o coração de Will,
arrebatando a alma de seu corpo. Realmente ele estava ficando louco, um louco
por não saber o que sentia. O rapaz que havia perguntado a Helena como ela
estava se aproximou mais do aparente ‘casal’ e encarou fixamente Will e seus
braços intrusos que sustentavam Helena.
- Você pode ir
agora. Eu a levarei até o seu destino. – proferiu a Will, o afrontando.
- Não tem
problema, estamos indo para o mesmo lugar. – “Quem é você, seu estranho?”, questionava internamente.
- Não. –
respondeu, tirando os braços de Will que estavam ao redor do corpo de Helena
tomando assim seu posto – Meu dever é protegê-la. – sussurrou a carregando até
o bloco Q.
Willian não
conseguia entender os motivos que levaram aquele cara a agir daquela forma, mas
independente disso ele havia se irritado muito com a arrogância que o rapaz
demonstrou. Por que ele, Willian, não poderia ajudar Helena? O que ele havia
feito para ser tratado daquela forma por um cara como aquele?
Helena apenas
olhou para trás tristemente, o movimento de seus lábios formavam um “Me
desculpe”, permanecendo com um semblante arrasado. “Quem esse cara pensa que é para roubá-la assim de mim?”, pensou
com os nervos à flor da pele. “Ninguém
rouba o que é meu! O que é isso Willian? Desde quando ela é sua? Pare de pensar
coisas estranhas, pare!”, retrucando assim entrou em sua sala.
“Foi
uma pequena emoção, mas inesquecível”.
- Por que você fez isso com ele? Ele só estava
me ajudando!! – exclamou Helena.
Dan olhou para
ela raivoso, suavizando aos poucos sua expressão. Quando é que eles imaginariam
que seriam tão próximos assim? Nunca, eles sabiam muito bem aquela resposta.
Danniel tinha 22 anos e cursava Engenharia Eletrônica. Era
um típico polonês muito bonito, com seus olhos azuis claros, seus cabelos
castanhos curtos e aquele par de óculos de grau que para Helena o deixavam
irresistível. A vida havia pregado uma
grande e complicada peça na vida de Helena e Dan. Certo dia, Helena estava
saindo de sua aula de coreano, teria que voltar a pé para casa naquela noite
fria e sombria de segunda-feira.
Naquela época já
fazia um ano que ela observava os passos de Dan e, mesmo ele não acreditando em
coincidências, vê-lo na escola de idiomas em que estudava, aprendendo italiano,
foi uma grande surpresa pra ela.
Caminhando
lentamente por aquelas ruas, Helena avistou um grupo de bêbados que sem demora
começou a mexer com ela. Dan, que estava retornando para casa, viu a menina e o
medo aparente em sua expressão, visualizando assim o grupo de homens
mal-encarados e bêbados que a seguia.
Por fim um deles
conseguiu alcança-la, segurando assim seu braço a impedindo de prosseguir.
Naquele momento o coração de Dan estremeceu em seu peito, seu cérebro estava em
ativa e ele passou a agir por puro impulso, parando bruscamente o carro entre Helena
e o restante do grupo.
Nem em sonho Helena havia pensado em Dan como
um anjo protetor. Por talvez raiva ou medo, Dan desceu do carro e com os punhos
fechados acertou um belo e extraordinário soco no bêbado que segurava
fortemente Helena, fazendo-o a soltar e fugir em disparada juntamente com seu
bando.
Helena estava em
estado de choque e cambaleou se deparando com o chão. Dan olhou-a e ficou surpreso ao perceber quem
era segurando seus ombros, a amparando. Naquele dia ele prometeu ao seu coração
e a Helena que nunca a abandonaria e iria protegê-la para sempre.
- Hein Dan? Não
vai me responder? – questionou Helena com uma das mãos na cintura, fazendo
beiço.
Ele adorava
quando ela ficava brava, mas sabia que não deveria tirá-la ainda mais do sério naquele
momento. Por que ela estava tão irritada com ele? Qual era a relação daquele
rapaz com sua pequena protegida?
- Por que Helena?
Não prometi que sempre a protegeria?
- Dan desculpe. –
sussurrou se sentindo culpada.
- Porém, posso
saber qual é a sua relação com aquele homem? – questionou intrigado, em um tom
irônico.
Helena ficou um
pouco nervosa com a pergunta de Dan. Mesmo o considerando como um irmão mais
velho algo em seu coração dizia para que ela não contasse nada do ocorrido há
três semanas. Suspirou e olhou firmemente para o melhor amigo que a inspirava e
era a sua admiração.
- Sabe, Will
apenas estava me ajudando. Além do mais acho que ele queria se desculpar por um
desentendimento que tivemos alguns dias atrás. – disse aparentando sinceridade.
“A bondosa e a
inocente Helena ainda acredita nas pessoas”, pensou Dan, “Devo mantê-la assim para sempre!”.
- Então, talvez
ele tente se desculpar outra hora – sugeriu, observando a expressão da menina –
Hey Helena, pare de fazer bico e não me culpe pelo que aconteceu, só estava
cumprindo a minha promessa. – proferiu se aproximando mais dela depositando
assim um beijo em sua testa. – Até.
- Até meu Anjo.
Obrigado pela ajuda. – gritou, enquanto Dan se retirava imerso em pensamentos. Ela
o viu se afastar se culpando um pouco por ter que omitir alguns fatos para ele.
“Helena,
não se preocupe. Aquele rapaz não irá mais mexer com você. Eu, Danniel Hozskosz[1]
cumprirei minha promessa. Não se esqueça: Estarei sempre com você”.
“Fique em silêncio e escute meu coração,
que só pulsa assim quando estou com você. Você entende o porquê de tudo isso?”
- Quem aquele cara pensa que é? –
resmungava Will sentado em sua cadeira. A raiva e o ciúme corroíam o seu
coração, transformando-o em um grande redemoinho de culpa. Talvez se ele
tivesse sido mais persistente ainda estaria com o calor dela em seus ombros.
- Fala Will! Por
que não me acordou hoje? – perguntou Kingone ao entrar na sala, sentando ao seu
lado.
Will emanava uma
péssima aura naquele momento, e olhava para ele com um olhar assassino. “O que deu nele? Por que a atmosfera ao
redor dele parece perigosa?”, pensou Kingone.
- Você chegou
para a aula, não chegou? Então não me perturbe, eu não sou o seu despertador
particular. – respondeu Willian ironicamente.
- Como se
custasse muito você bater na minha porta. Desse jeito vou me mudar e deixar
você morando sozinho naquele apartamento, seu ingrato. – comentou Kingone de
brincadeira - De fato, acho que não custa nada você me acordar já que estudamos
no mesmo lugar, fazemos o mesmo curso e moramos na mesma casa. – concluiu
seriamente, fazendo com que Will o olhasse com raiva, mas a raiva de Will logo
passou e ele se entregou a uma corrente de risada.
- O que foi? –
perguntou Kin, percebendo que ele era o motivo das risadas.
- Você...
Hahahaha... Está com o par de chinelo errado.... ahahhaha – disse em meio ao
riso.
Kingone olhou
surpreso para Will observando em seguida suas próprias roupas. Estava com uma
camisa listrada roxa, com uma calça jeans e com um par de chinelos. Roupa
básica, a primeira que viu no guarda-roupa, já que estava atrasado. Mas de
fato, havia trocado o par dos chinelos, estava com um chinelo branco no pé
direito e um chinelo preto no pé esquerdo.
- O que achou?
Feel like Yin e Yang. – comentou brincando da própria falta de sorte, fazendo
Will rir ainda mais.
Logo o professor
chegou, mas, mesmo com as brincadeirinhas de Kingone, Willian não conseguia
parar de pensar. Sem ter mais consciências de seus atos, pôs-se a imaginar
planos e mais planos mirabolantes, tentativas de derrotar aquele estranho que a
roubou dele. Repentinamente se levantou da cadeira assustando toda a turma. Por
que ele estava a imaginar aquilo se ele não possuía nenhuma relação com ela?
Por que ele estava se preocupando com tão pouco? É estava na hora dele expor a
situação para o ‘Psicólogo de Plantão’.
- Willian? O que
foi?- perguntou o professor.
- Estou pensando.
Fique quieto antes que eu perca minhas conclusões. – disse, virando-se para ver
quem havia lhe dirigido à palavra, gelando ao olhar a expressão de incrédulo do
professor. – Desculpe-me professor, pensei que fosse o Kingone.
Respirando fundo
o professor de ‘Métodos de Matemática Aplicada’ o fuzilou, dizendo:
- Dá próxima vez
se lembre de que isto aqui é uma sala de aula, não um boteco! – comentou
enfurecido fazendo a turma cair no mar do riso.
Will estava
constrangido. O que a vida dele estava virando? O que ele estava se tornando?
Sentando-se novamente, fechou os olhos tentando entender seu errante coração.
Desde quando se
sentia assim? Desde o ocorrido. Quando ele via Helena, o que acontecia? Seu
coração pulsava forte, sua cor tornava-se vermelha e seus lábios desejavam os
dela novamente. E se ele nunca mais a visse? Talvez seu coração parasse de
bater. E se ela e aquele cara tivessem algo? Ele lutaria com todas as forças para
tê-la ao seu lado.
Will petrificou
assustado, analisando o reflexo de suas respostas. Sim, parecia que ele estava
apaixonado e tendo enfartes de ciúmes. Se ele não pudesse esclarecer aquilo com
ela, seria um homem, não, nem um homem seria. Seria um projeto de ser humano
desestruturando-se.
“Quando a primeira estrela surgir no céu,
recordarei do seu brilhante sorriso.”
À medida que a manhã passava Helena, aos
poucos, começou a acostumar-se com a dor, mas assustou-se ao constatar que o
arroxeado no seu tornozelo havia inchado demasiadamente. Seu coração também
doía e estava dividido, pois sentia muito pelo ocorrido com Will e ainda mais
culpada por ter brigado com Dan.
- Helena, tem
certeza que está bem? – perguntou Pietro abraçado Nina.
- Sim cunhado, eu
estou bem. – omitiu – Mas, me diga uma coisa caboclo, qual é o esquema de vocês
dois?
- Nós dois? –
perguntou dando um beijo na namorada – É o esquema do amor – respondeu
presenteando com mais beijos.
- ¬¬¨.
- Pare com isso Pietro!
– pediu Nina constrangida – Pare já de me beijar caboclo moreno lindo. – pediu
fazendo beiços.
- Por quê? Não
posso demonstrar carinho para a minha amada?
- Carinho
excessivo não! – o respondeu tentando escapar dos ataques amorosos do namorado.
Aquilo era demais
para Helena, Luna, Julia, Beatriz e Emma, tanto que na primeira oportunidade
que tiveram escaparam sem demora daquele tormento mental, indo se afogar nos
salgados deliciosos da vulga ‘Tia da Coxinha’[2].
O caminho para lá
foi um pouco dolorido para Helena, que o enfrentou com o apoio de Luna e Emma.
Não queria encontrar naquele momento Dan, muito menos Will. Sentia-se confusa e
sem direção, não conseguia entender o como seu coração se sentia.
Entretanto, Deus
não a deixaria impune. Logo a frente estava Dan com seus amigos, perto do ponto
de ônibus. Will estava um pouco mais atrás indo na direção ao carro da Tia.
- Eu não vou
olhar. Eu não vou olhar, não vou olhar, não vou. – sussurrou convencida.
- O que foi Helena?
– perguntou Julia fazendo Helena se virar e concentrar seu olhar no de Will. Ao
vê-lo seu coração se alegrou de uma maneira que nunca havia acontecido antes,
quis muito tê-lo ao seu lado, sentir o seu perfume e o calor do seu corpo.
- Droga olhei. –
sussurrou constrangida virando-se rapidamente para fingir que não havia o
visto, entretanto na outra direção estava Dan a sorrir, fazendo-a se sentir
protegida e calma, pois ela sabia que ele sempre estaria ao seu lado.
Will percebeu a
presença de Helena e sorriu indo em sua direção. Dan, por sua vez, vendo a cena
tratou de apressar-se envolvendo assim Helena em seus braços.
A raiva tomou
conta do rapaz que percebeu o inesperado semblante abatido da menina. Será que
ela e aquele cara possuíam alguma relação? Era isso que precisava descobrir
antes que mergulhasse seus pensamentos em preocupações desnecessárias. Achou
melhor ir atrás de seu alimento antes de qualquer coisa.
Ali na fila havia
uma das meninas que há pouco estava com Helena. Deduzindo que a menina soubesse
de algo sobre o relacionamento de Helena com o rapaz de olhos azuis, decidiu
perguntar.
- Hey! Moça! –
chamou.
- Sim. Pode me
chamar de Julia. – completou a menina que estava na fila dos salgados.
- Julia, pode me
responder qual é o tipo de relacionamento daqueles dois? – perguntou
constrangido apontando sutilmente para Helena e Dan.
- Está, por um
acaso, falando da Lena e do Dan? – perguntou Julia. “Santa do Yoon Suh Oppa, me abane aqui que tô em fogo!”, pensou
seduzida pelo rapaz.
- É. – “Dan? Então esse é o nome daquele individuo!”.
- Se está
perguntando no sentido de namorados, a resposta é não. O que aqueles dois ali
têm é mais pra uma relação de irmã e irmão. Dan já fez muito por Helena, assim
como ela já fez muito por ele. – simplificou.
- Ah! Obrigado! –
agradeceu entusiasmado. “Relação de
Irmãos? Ah, que bom!”, pensou tomando coragem para ir até ela, deixando
para trás uma Julia um tanto quanto confusa.
Helena abriu um
maravilhoso sorriso ao vê-lo, aquele que antigamente era reservado apenas para
Dan, que ficou aparentemente magoado. Ele, que estava abraçado a Helena, se
surpreendeu quando o corpo dela tornou-se relaxado somente por ouvir a voz
daquele forasteiro.
- Oi Helena. Está
melhor? – perguntou preocupado.
- Oi Will, estou
sim! Obrigado por perguntar. – respondeu-o contente.
“Por que meu coração está a pulsar tanto
somente por ver este sorriso? Por que eu sinto ciúmes e inveja deste tal de
Dan?”, pensou Will ao desejar ocupar o lugar de Dan.
“Dan, por que está me apertando tanto?”,
pensou Helena percebendo que Dan estava deixando aquele singelo abraço apertado
demais. Então encostou sua cabeça no ombro de Dan tentando, em vão, fazer com
que ele parasse.
“Isso Helena. Acabe com as esperanças desse
branquelo! Isso minha pequena flor!”, pensava Dan ao depositar um singelo
beijo na testa de Helena.
Will já estava
impaciente com aquela situação: constantemente suas poucas horas de sono eram
tomadas pela imagem dela, impossibilitando-o de dormir; a cada minuto e segundo
ele se lembrava de Helena, o que acabava virando um terrível tormento, então
por quê? Por que aquele cara tinha que deixar aquilo tudo mais complicado?
- Will, não vai
me apresentar seus novos amigos? – perguntou Kingone chegando devagar, para a
sua sorte, o resgatando de suas divagações.
- Ah, já estava
me esquecendo – respondeu olhando para o amigo com cara de ‘que intrometido
você, hein?’ – Pessoal esse é o Kingone.
- Olá Kingone! –
responderam todos.
- Olá! – disse –
Mas por um acaso esse pessoal tem nome? – questionou fazendo todos caírem na
gargalhada.
- Tem sim! –
respondeu Luna. – Estas são Helena, Julia, Beatriz e Emma, este é o Dan e eu
sou Luna. É um prazer conhecê-lo! ^^
- O prazer é todo
o meu! – respondeu galanteando.
Dan, aproveitando
a situação, decidiu jogar um pouco mais sujo com Will. Não sabia o que ele
queria com Helena, mas para ele isso pouco importava. Helena era dele e de mais
ninguém.
- Helena, não quer se sentar? – perguntou zeloso Dan,
despertando mais raiva e desconforto de Will, chamando assim a atenção de
Kingone.
Como sempre
atento a tudo que acontecia em sua volta, Kingone percebeu o desconforto de
Will. Seria Helena a raiz de seus problemas e suas noites sem dormir? Seria ela
a menina da escada, aquela que estava deixando Will louco?
- Acho que sim
Dan. Obrigado.- agradeceu sentando-se abraçada a ele nos bancos gélidos de
madeira ao lado do ponto de ônibus.
Helena vagarosamente deixou-se encaixar na curva do pescoço
de Dan e fechou seus olhos, sentindo todo calor e zelo que emanava dele.
Olhando aquela cena Will percebeu que era hora de ir, se despedindo por fim de
todos.
Para Kingone era óbvio o que estava acontecendo. Parece que
naquela tarde ele e Willian teriam uma longa e proveitosa conversa.
“Devo
confiar em você? Não magoará meu coração?”
- Fale-me de seus males, Srº Kang. -
pediu Kingone calmamente a Will.
Os dois estavam
na sala mais escura da universidade, localizada no CALEM[3], com todas as cortinas
vedadas para uma ‘psicanálise’, como se Kingone fosse Freud e Will seu mero e
perturbado paciente.
- Tudo começou a
três semanas...
“...
Foi em uma manhã fria de quinta-feira. Naquele dia eu estava distraído por
causa do telefonema que recebi de minha mãe na noite anterior e acabei não
percebendo que meu tênis estava desamarrado. Em um descuido me desequilibrei e
cai da escada. Entretanto ali na minha frente havia alguém, e sem querer um
beijo aconteceu.”
- Foi aquele dia
que você estava só falando de beijos, não é?
- Uhum,
continuando...
“...
A pessoa era Helena. Não sei se você se lembra como eu fiquei perturbado aquele
dia e os que se seguiram. Agora eu não consigo comer, dormir, ou prestar
atenção em qualquer coisa que seja, pois eu só consigo pensar nela e quando eu
a vejo perco completamente a cabeça. Hoje quando a vi com aquele cara
experimentei um sentimento horrível de perda e inveja, e sei que isso é ciúme.
Eu tenho medo de perdê-la, dê nunca mais vê-la e principalmente medo de fechar
meus olhos, pois sei que sua imagem poderá sumir. Então como eu fico?”
- Já tentou
sonhar? ¬¬¨ - perguntou Kingone, brincando – Bem, acho que já acabou sua
sessão.- disse por fim.
- E você sabe o
que eu tenho? – questionou ansioso.
- Sim, e é algo
extremamente simples.
- O que é? Por
favor, me diga! – pediu desesperado.
Kingone parou
onde havia uma pequena fresta do sol. Sua expressão era de terror, mas aos
poucos ele foi suavizando-a, até se tornar uma expressão de brincadeira e puro
deboche.
- Você está
apaixonado! – sussurrou.
Will arregalou os
olhos assustado com o resultado de sua ‘psicanálise’. Naquelas três semanas que
haviam passado em nenhuma hipótese ele havia cogitado aquilo. Estaria ele
realmente apaixonado por Helena? Talvez sim, Kingone nunca errava.
- E se eu
realmente me apaixonei por ela? E se essa for a minha única chance de ser
feliz? E se...
- Sei lá, tenho
cara de psicólogo? – interrompeu Kingone, sempre de bom humor. – Agora bem que
você podia me apresentar melhor aquela Luna como forma de pagamento! – declarou
começando a brincar e discutir com Will naquela sala escura.
Se estava
realmente apaixonado por Helena ele não sabia, mas sobre algo ele tinha
certeza: “Farei de tudo para que a
presença dela torne-se realidade em minha vida. Helena, estarei esperando por
você!”.
“Abraçados, apenas deixaram o vento roçar
de leve seus rostos. Era aquilo que queriam: apenas viver tranquilamente o seu
simples amor.”
[1]
Sobrenome da minha avó por parte de pai. É um sobrenome polonês e coloquei para
homenagear nossas origens XD
[2]
Na época que eu comecei a escrever, isso quer dizer em 2011, a Tia era
conhecida como ‘Tia da Coxinha’ ou Tia do 50 cents’. Como o negócio ficou
famoso a renomeamos de ‘Tia do carro’, já que agora ela vende no carro dela (e
deve ganhar muito, aliás).
[3]
Lugar onde são lecionadas as aulas de línguas estrangeiras como inglês,
espanhol, alemão e francês.
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