5º Capítulo – Confiança?
“Obrigado, por todos os momentos que passamos juntos”
- Mama, o que
aconteceu? – perguntou Helena rapidamente ao encontrar a mãe no corredor do
hospital. Anita aparentava estar frágil, mas já se recompusera do susto. Ela
olhava para Lena tentando contar o que havia ocorrido, porém o seu coração
ainda estava um pouco temeroso.
-Seu irmão
idiota, e aquela moto mais idiota ainda.
- Ãh? – perguntou
não entendendo.
- Seu irmão saiu
com aquela moto. O sinal ainda estava verde, mas o carro da outra faixa cruzou
e bateu com tudo nele. Mas, gracias a Diós ele está bem.
- Quer ir para a
casa descansar um pouco? - perguntou
preocupada com a aparência da mãe.- Eu fico com ele.
- Não precisa
querida, mais tarde eu vou. – disse tentando tranquilizá-la.
- Ok, mas você
vai e eu durmo aqui com ele, ok? – perguntou fazendo aquela cara de quem não
aceita um não como resposta.
- Certo, certo.
Aceito sua ‘proposta’. – concordou abrindo a porta para que a filha entrasse.
Ao entrar no
quarto, Helena notou a cor pálida do irmão, assim como o gesso na perna e no
braço esquerdo, além dos pontos na testa e algumas queimaduras.
Rafael tinha 22 anos e um brilhante futuro pela frente como
arquiteto. Morria de ciúmes da irmã, portanto nunca a apresentava para os seus
amigos, inventando sempre alguma coisa pra ela fazer fora de casa quando eles
iam visitá-lo.
- Ei, oi linda. – sussurrou com voz fraca.
- Por que não me chamou quando isso aconteceu? – perguntou
sentando-se no sofá ao lado da cama, pegando assim a mão ‘boa’ do irmão. Ela olhava-o
entristecida e preocupada com o seu estado, o fazendo se sentir um lixo por ter
feito ela se preocupar.
- Não queria te atrapalhar, sei que você estava com os seus
amigos.
- Bobo, você sabe que você é mais importante. – sussurrou com
voz de choro.
- Sei, mas não queria te preocupar. – disse limpando uma
lágrima do rosto da irmã. – Não chore por isso, eu estou aqui, bem ao seu lado.
Esqueceu? Eu sou o mais importante, não importa o que aconteça eu sempre
estarei aqui. – comentou.
- Convencido. – disse rindo um pouco. – E então, vai me
contar o que aconteceu? – perguntou tentando conter a tristeza em seu coração
para que assim ela pudesse ser a sempre bem humorada e forte irmã que Rafael
esperava que ela fosse.
Assim, com conversas e risos, Helena e Rafael passaram a
noite fortalecendo ainda mais seus laços de irmandade. Mas, mesmo relacionando-se
bem com o seu irmão Helena sabia o que deveria a todo custo ocultar do
conhecimento do irmão, e esse algo certamente era Will.
Willian chegou a
casa mais feliz que criança quando ganha doce. Ele havia desistido de
achar uma razão para a saída rápida de Helena, se contentando apenas com aquele
sentimento que perfumava seu coração.
Assim que entrou encontrou
Kingone com uma expressão de contentamento. Pelo jeito a tarde do amigo também
havia sido ótima. Eles trocaram rápidos olhares subentendendo-se que
necessitavam por pra fora toda aquela felicidade que habitava seus corações.
- Quer fazer isso
agora ou depois? – perguntou para Kingone, voltando da cozinha com um copo de
água.
- Agora é melhor.
Nossos pensamentos estão mais calmos e frescos. – respondeu Kin, apontando para
o sofá.
Acomodou-se
lentamente no sofá, pensando na melhor forma de contar o que acontecera para o
amigo. Detalhou claramente para Kin toda a sua tarde e a explosão de
sentimentos que sentiu quando beijou Helena, assim como toda a sua preocupação
e zelo para com a menina.
Kingone
permaneceu calado enquanto o amigo falava. Sabia que Willian era teimoso demais
e não admitiria que estava apaixonado. Pelo jeito ele teria que usar algumas
táticas de sua mãe, que era psicóloga.
- E então
Kingone? Qual é o seu veredito?
- Você a deseja
muito. Entretanto é só desejo, nada de paixão, nada de amor.
- O QUÊ? –
questionou assustado. – Você disse que eu estava apaixonado por ela e agora diz
que é só desejo? Como vou olhá-la novamente? – perguntou entristecido.
O amigo silenciou-se
por alguns segundos, pensando se era o certo o que ele estava fazendo. Estava o
enganando, mesmo que fosse para o seu próprio bem e o de Lena. Será que isso
era certo?
- Will, pense bem
no que eu vou dizer pra você agora. A Helena é linda, fofa, inocente, amorosa.
Se você realmente a ama sei que sentiria muito mais do que zelo e preocupação.
Quando se ama alguém você sempre está feliz independente da sua situação. Você
vê felicidade em tudo e em todos, e só de pensar em quem se ama seu coração
bate, mais bate tanto que parece que vai fugir do seu peito.
- Kin, não comece
com os seus dilemas esquisitos. Você agora está me dizendo que o que eu sinto
pela Helena não é amor, mas sim desejo. Como você quer que eu encare isso?
- Como o homem
que eu sei que você é.
Will olhou
espantado para o amigo. Kingone nunca disse nada como aquilo para ele, mas como
queria acabar com aquele assunto perguntou ao amigo o motivo da sua felicidade.
- E você? Qual é
o motivo deste sorriso amarelo? – perguntou calmamente. – Luna?
- Luna, certo. –
sorriu contente.
- Que bom que
você está feliz Kingone.
- Feliz não,
explodindo de felicidade.
- Mas o que
aconteceu com vocês dois?
Kingone
levantou-se, abriu a sacada do apartamento deixando o ar frio do outono tomar
conta do ambiente. Olhou a lua brilhante lá fora, sorrindo apenas ao pensar no
que sentia por Luna.
- Na verdade
nada. Apenas me dei conta que preciso dela mais do que tudo. Preciso dela
porque a amo, porque sinto um grande reboliço quando estou perto dela e
principalmente porque sei que ela sente o mesmo por mim. Quando ela me olha com
aquele olhar de paixão eu me derreto todo.
Will riu da alegria
do amigo. Era incrível ver Kingone feliz daquele jeito.
-
Que maravilhoso Kin. Acho que é a primeira vez que te vejo assim.
- É, eu também. –
disse rindo – Que bom não é? Estar apaixonado assim por alguém é incrível.
- Uma sensação
única, certo?
- Sim. Ainda bem
que vivemos em pleno século XXI, pense se vivêssemos antigamente.
- Em qual sentido
Kin? – perguntou Will pensando seriamente no que o amigo queria dizer.
- Pense se
vivêssemos naquela época em que o casamento era arranjado e não podíamos nos
casar com quem amávamos de verdade.
Por algum motivo
não revelado Willian tornou-se repentinamente vermelho de raiva. Levantou
rapidamente do sofá e foi até a janela e ficou observando a rua por alguns
segundos. Realmente Kingone poderia ter sido mais feliz não tocando em um
assunto como aquele, porém nada poderia fazer sobre isso já que o amigo nada
sabia da sua infelicidade.
- Algum problema
Will? – perguntou Kin estranhando a atitude do amigo.
- Nada não. –
disse omitindo. – Que tal irmos à casa do Yuri? – perguntou tentando desviar o
foco da conversa.
- Por mim tudo
bem. Ele ligou aqui antes de você chegar.
- Hum, ele deve
ter ligado para o Renato, o Kauê, a Lisandra e o Rafael também. Talvez ele
queira uma pequena festinha. – concluiu.
- Na verdade não.
- Não? –
perguntou intrigando-se com a chamada de Yuri.
- Não. O Rafael
se acidentou com a moto hoje de tarde. Está no hospital. O Yuri quer visitá-lo
amanhã e perguntou se queríamos ir junto.
- Se acidentou?
Como?- perguntou já um pouco aflito. Will sabia que há tempos a mãe de Rafael
queria dar aquela moto por ter medo do filho se acidentar.
- O Yuri disse
que segundo a mãe do Rafa a culpa foi do carro. Ele queria ir lá hoje, mas a
Tia Anita disse que seria melhor esperar um pouco. Na verdade o Yuri falou que
estava mais preocupado com a irmã do Rafa.
- Yuri e o Rafa
são amigos desde o maternal, não é?
- Uhum. Por isso
que o Yuri se preocupa com a irmã dele. Segundo ele os dois não se largam desde
criança e sabe que ela sofre por ele, assim como também sabe que ela é mais
forte do que aparenta ser.
- A irmã do Rafa...
Nós nunca a conhecemos. – comentou Willian pensando em como poderia ser a irmã
do amigo.
- É mesmo. A Tia
Anita disse uma vez que o Rafa tem muito ciúme dela, por isso quando vamos lá
ela nunca está. – comentou rindo.
- Como será que
ela deve ser? – se perguntou Will. – Bom, melhor eu ir tomar um banho, já que
pelo jeito não vai rolar irmos no Yuri. Temos que descansar.
- Mas hoje nem é
sábado. – comentou Kin rindo da expressão que Will fez.
- Sem gracinhas
Sr. Kingone. – disse indo até o seu quarto. – Vamos ver o Rafa que horas
amanhã? – gritou do quarto enquanto pegava um pijama.
- Lá pelas 10 da
manhã. Tem exame amanhã e nós não ficamos. – comentou relembrando o amigo.
- Ok. – concordou
entrando no banheiro.
Nem parecia que
já estavam no meio do segundo bimestre. Tanta coisa havia acontecido em tão
pouco tempo que nem parecia que havia conhecido Helena há quase um mês. Embora
aquela água quente que lavava seu corpo não estivesse surtindo o efeito
desejado de acalma-lo, pela primeira vez em muito tempo Will tratou de esquecer
o telefonema de sua mãe enquanto tomava banho. Não era necessário se preocupar
com aquilo. Não era necessário enquanto ele tivesse Helena, mesmo que ainda
tentasse entender o que ela significava para ele.
“Eles
estavam com os olhos fechados e apenas deixaram o momento acontecer não
interrompendo aquele beijo que ambos queriam.”